Sunday, 6 July 2008

desmoronamentos

Confesso que desisti de brigar comigo mesmo. E já não sei os caminhos. Esse desmoronamento de tempo é algo peculiar e estranho. Horas passam enquanto escrevo coisas que nunca hão de se completar. Roteiros de filmes, crônicas, poesias de bar, contos. A Cidade acontece lá fora, fico no meu quarto, contando os centavos, sem um puto.

Não quero mais fazer nada daquilo. Liguei para casa para pedir dinheiro e isso significa que o resto de orgulho que um dia tive se esvaiu. Após quase quatro anos, me resta um pouco de força para terminar o mestrado e resgatar a mim. Andar pela Hoxton Square num sábado a tarde, sem as tuas mãos para segurar, e ainda assim respirar este alguém que eu só agora entendo que nunca desaprenderei a ser.

Cresce em mim um sentimento absurdo de crueldade com o mundo, preciso repetir. Uma exatidão de sentenças construídas no ar que encaixo com força nos espaços vazios displicentementes deixados por vocês todos, no seu disco arranhado e antiquado. Quero escrever sobre as minhas dores. Mas temo não saber expressá-las, como se o papel nunca contivesse linhas suficientes para esclarecê-las, seus motivos mais essenciais. Rascunhos se atiram suicidas nas latas de lixo.

Logo agora que tenho tanto tempo e nenhum centavo, vejo-me obrigado a escrever. Mas então, escrevo a tese do mestrado e abandono a ficção mais uma vez.

My thoughts are crabbed and sallow.

--Sylvia Plath, "Jilted"