Wednesday 31 December 2008

Outro Ano

Pra não dizer que não falei das flores, pensei em relatar umas cositas de 2008.

Terminei o mestrado.
Não me apaixonei por ninguém.
Chorei por me sentir vazio.
Aprendi a cultivar amizades.
Cortei 4 ou 5 vícios de romantismo em mim.
Aprendi a ser mais direto.
Disse a verdade de uma forma mais crua.
Beijei paredes.
Compreendi onde me encontro enquanto escritor.
Perdi laços com o país de onde vim.
Ganhei outros.
Enlouqueci em Amsterdam.
Chorei por Madrid.
E Barcelona. E Paris.
Disse não muitas vezes.
Dessisti do que não interessa.
Me fechei, me abri.
Cresci uns 4 ou 5 anos em 1.
Falei um monte de entrelinhas incompreensíveis aqui.
Li o blog de vocês que me lêem.
Estudei Espanhol. Dancei Tango.
Rodei a Cidade como nunca.
Me encontrei numa esquina.
Me perdi, me achei.
Peguei carona no sonho dos outros.
Comecei a escrever um romance.
E me apaixonei por um livro de dois capítulos
Que ainda não sei se consigo terminar.
De escrever.

Saturday 13 December 2008

indignação




Me venderam como um animal de estimação por uns trocados. E eu nem sabia que estava à venda.

Thursday 11 December 2008

menos 4 graus

se ao menos nevasse ;D

Friday 28 November 2008

Thursday 27 November 2008

Revolutionary Road

A trapaça do tempo se estampa inegável em cada um de nós. Não em prematuros sinais faciais, mas num nível de consciência que nos diz que o momento é agora, e que ficou tarde para algumas coisas. O peso dos anos não é algo sufocante, é um estado de auto-conhecimento, de domínio. Não há mais tempo para ser infantil ou irresponsável. Não há. Ou é assim que me sinto.

Lá na empresa, entre os e-mails que chegam do Japão ou da Alemanha, vejo-me subitamente comprometido com a eficiência de processos, discuto detalhes com o tradutor italiano, opino na arte do site com a designer, não mais com aqueles ares de artista, daquele garoto que um dia fui. Tudo necessita o meu Eu lá, a minha atenção mais convicta.

As traduções que faço agora precisam da minha revisão mais técnica e do meu apego maior à língua. Sou eu, marujo solto ao mar de papéis, tentando solucionar na minha cabeça, eu comigo, que destino seguir. Porque se você pensa desta forma quadrada sobre a vida e suas etapas lógicas, eu não. E não por vaidade ou charme, é porque esta rota já traçada por outros não me faria feliz.

Gastei cada centavo que tinha me perdendo neste mundo vão. Não há nada, nada, de que me arrependa. Eu vivi cada momento. E, no entanto, quarta tirei um extrato no banco e tinha 40 centavos na conta. Sim, há uma reserva que não quero mexer. Mas não é sobre isso ainda. O mundo é uma armadilha. Entra na roda eu e você. São as contas, o dia-a-dia, a rotina, e a nossa linha é escrita por quem mesmo?

Não quero de forma alguma uma ditadura capitalista me impondo regras, condutas, e quando penso em voltar ao Brasil, me vem claramente a noção de que eu fiz tudo o que queria, nos meus vinte e poucos anos. Tudo. Mas o tal ‘settle down’, a sua idéia de se acolher, de se aquietar não me agrada. Tento bolar estratégias para conservar a minha liberdade, estar à parte disso que vocês descuidadamente chamam de lar, trabalho etc.

Por isso, quando vi o trailer do Revolutionary Road no Youtube, abateu-me pensar que em alguns termos eu ainda sou aquele garoto revestido de mim mesmo. Conservo os ímpetos, mas ainda não encontrei a saída. Já assisti o trailer umas 500 vezes e mal lembro do livro, pois o li há tanto tempo. Lembro que a primeira parte é muito triste e foda. Lembro que o estilo oscilou no meu gosto e de que chorei por que aquilo me lembrou de ‘tulipas para a garota das rosas’, que é o meu conto favorito do Beijando Paredes.

O questionamento me pertuba mais porque sei que há nele traços da minha solidão. E porque não há ninguém para me dizer ‘I can make you happy here’.

Ps. A Nina Simone cantando é covardia.

Saturday 15 November 2008

Little boy

Little, little boy
What paths have you stepped in?
Did you get lost or sucked in?
Did those guys make you feel down?
Did they turn your yellow into brown?

Little, little boy
Why is your sky so dark?
Why do your eyes lack spark?
Is your world that unfair?
Why can I smell despair in the air?

Little, little boy
Do not cry
Do no cry today
For the dawn is soon gone away.

Thursday 13 November 2008

Numa noite fria de Novembro

Para ler ao som de Sinnerman – Nina Simone

Andando por Shepherds Bush, caía a neve, mas o meu coração me diz que ainda é Novembro. Talvez sejam as retinas, crostas de desamparo que já não se cabem no céu. O céu de Londres, cinza ou azul. Duro, sempre. Mas o problema não é a cidade, o problema sou eu (o problema é a Cidade, são todas as cidades do mundo).

Ao telefone confesso aos ouvidos mudos o meu maior desejo nas manhãs de sábado. A minha cama. Por dentro, tudo está lúgubre e soterrado. Hoje, vi distante uma casa em que costumava ir e recordei de você. De longe, as retinas cansadas não resistiram ao encanto da arquitetura gótica que identifica aquele lugar onde outras vezes eu te disse não. O problema não é as palavras, mas o que elas significam.

Ver a casa de uma certa distância, fora da nossa rotina apressada e crua, me fez reparar. Como quando, perdido nas ruas de Madrid, correndo em círculos para te encontrar, antes que você dessistisse e se fosse, tendo a impressão contínua de já ter passado por aquele lugar, todos os lugares, perguntava a todos ‘Donde está la calle, por favor?’; como quando te vi de novo. O céu morria tenso sem luar e eu lembrei instantaneamente de como o teu jeito de olhar, parar, caminhar, como tudo sobre você era admirável, a beleza das suas linhas harmônicas e descontruídas, o seu sorriso. Algo que já não prestava atenção enquanto corríamos pelas ruas de Londres, enlouquecendo nas nossas pirações de delírios absurdos e liberdade de pensamentos vanguardistas que não se aplicam mais a ninguém.

O coração sufocado pelo calor do verão da Espanha, aguardei você me fitar e aquelas palavras foram como uma arma apontada a mim, e atiraram palavras em outra língua, ‘es un maricon, te odio’. E desde então livrei-me de qualquer expectativa, de qualquer dor. Ando por aí, sem um sentimento qualquer. Abandono os amores de ontem sem guardar uma recordação que dure. E os ouvidos cansados ouvindo repetidas cartilhas já não entedem mais as minhas retinas, os meus olhos desvairados, que não conseguem inventar quando necessário, e não conseguem mais viver o momento quando preciso.

Thursday 6 November 2008

Lições ao andar de bicicleta

Os passeios parecem mais altos. Não dá para pedalar e comer Falafel ao mesmo tempo. O trânsito anda nervoso (será o credit crunch ou a eleição de Barack Obama?) Faz frio, muito frio ao embalar nas ladeiras. Londres é feita para as magrelas, há estacionamento em cada canto. Eu ainda me viro bem. Se chover eu estou ferrado. O metrô e os ônibus perderam a graça. Ainda gosto de caminhar.

Wednesday 5 November 2008

Fazendo as pazes com o frio

E os rastros do outono no chão. Degradês de amarelo e laranja que despencaram. As folhas.

Estes dias lá no trabalho, além das flores, as contra-mãos. Ganhei uma bicicleta e agora ando com tons de encanto pelas ruas de Londres. Look left, look right. E eu que pensei que seria frio demais para andar de bicicleta. Sinto-me uma criança embalanda pelo pedalar e encaro a Cidade com um sorriso maroto. Pedalo, pedalo, pedalo, uma sensação de liberdade incrível ao redor de Notting Hill, um daqueles momentos em que me pego pensando se a vida não poderia mesmo ser assim tão fácil, sem esta estória de contas, responsabilidades, metas. Se a gente não quisesse conquistar o mundo, um mundo sujo e perdido.

Thursday 30 October 2008

Que se

Doem os meus pés. As minhas mãos. O meu nariz. De frio que entra pelo que não acorberto, de tão teimoso. Um frio cortante e surdo. Grito tão alto quanto posso, arranco os pulmões de mim para consumar a frase no ar: é Outubro. Não deveria estar tão frio, nem nevar. A última vez que nevou em Outubro foi 70 anos atrás. Então é assim, volto do Brasil, saio do calor de 36 graus e vem essa porcaria de frio me agasalhar, cobrindo o céu de um cinza mal-vindo.

Que se danem.

Os dedos sentem caimbras, ou será o cérebro? Eu, aqui, me sentindo o rapaz de 30 anos mais infantil do mundo, um ser que ainda tem crises de lugar. Viajar para mim nunca será sinônimo de. Eu cobiço. Eu quero mudar tudo.

Que se danem, eles.

E vejo os livros me encarando com as suas aparências perfeitas na minha estante. Para que diabos eu tinha de saber escolher? Levanto, jogo todos no chão, como uma mulherzinha, e depois choro, como uma mulherzinha.

Que se danem, elas.

Levanto para tomar um chocolate quente, e não há açúcar. Há coisa mais triste? Abro o armário do flatmate e ele aparece. Caralho, por que droga você não ficou no seu quarto?

I was just looking for sugar, I ran out, digo todo sem graça.
So did I, ele diz.

Há coisa mais triste que uma casa sem açúcar? Vou para o meu quarto, com o meu chocolate amrgo, pensando por que às vezes é tão difícil ser, e que eu queria ser invisível como você, desnecessário como você, que vem aqui com os seus passinhos pacatos e sorrateiros ler o diário dos outros, enquanto eu durmo do outro lado mundo.

Que se danem todos vocês.

Tuesday 28 October 2008

Arrepios

Tão fria a cidade está que nem sequer tenho coragem de olhar o termometro.

Sunday 26 October 2008

Incompreensões

A cidade e as suas linhas riscadas no céu. Outra vez, eu vejo Stella caminhar oferecendo ao vento o balançar do seu vestido, com aquele mesmo ar desencontrado. O cortar das ruas a faz querer guardar a cidade dentro de si. Como um refúgio para si mesma. Stella já partiu outras vezes, já chegou outras vezes, já aportou. Outras vezes.

Ela desvenda Amsterdam com olhos de garota. A estação de trem principal e suas direções todas. E já não sabe definir se o ar aqui é mais leve, ou mais pesado, de que substância o ar é constituído, agora. As vitrines e suas palavras incompreensíveis. Stella gosta de palavras, quanto maiores melhor. As vitrines se sucedem até o Red Light District, onde as vitrines refletem os seus olhos, em cada puta escancarada sorrindo um sorriso que Stella aprendeu faz tempo. Stella decide que nunca será uma puta em Amsterdam, porque Stella não quer viver de espera, e as vitrines são turvas visões de putas esperando caladas, sofrendo caladas. Elas e seus sorrisos.

Stella gosta de andar pela cidade. A cidade tem um ar que Stella agora resolveu chamar de. Mas não é isso ainda. Stella gosta particularmente de andar de metrô em Amsterdam, porque os trens atravessam o resíduo espacial e revelam os canais e não saem do chão. Não há de se subir escadas para se pegar o metrô de Amsterdam. Stella tem chão.

No desenrolar das esquinas, Stella quer o emprego da vitrine do bar. Mas Stella não quer mudar de vida, não quer ter que recomeçar. Stella não aguenta mais. O cansaço do mundo grudou todo no solado de Stella, e ela não sabe mais. Qual a substância do ar?

Tuesday 14 October 2008

E(ssa) Cidade

Primeiros dias

A vista do aeroporto de Salvador é mesmo um sinal de boas-vindas. Bambus se entrelaçam, cobrindo o céu, conduzindo-nos até o extremo final que nos faz querer respirar o ar fresco da cidade numa noite de primavera. É o sinal que preciso para saber que estou em casa.

A casa brinca comigo, me sinto uma criança perdida. Já não sei onde se guarda as coisas, ou as coisas se guardam em outros lugares. Uma mistura de estranhamento e memória. Saio, à noite, as ruas parecem desgastadas, as pessoas de repente me parecem todas iguais. Quero dançar e me restam poucas opções em Salvador. Lá, onde vou, o único lugar que me diz nesta noite, já não me sinto parte de nada – eu acho que nunca me senti parte; preciso de doses de alcool para adormecer o pensamento.

Talvez estes quatro anos morando no exterior tenham me dado algo que eu não sei contar. Os meus grandes amigos se mandaram também, e os poucos conhecidos com quem esbarro pelo caminho, mal querem papo. Não estou certo se intimido ou desagrado. Mas eu nunca estive tão confortável com o fato de ser quem sou.

Andando pela Barra, vendo a orla se revelar, acho tudo muito bonito e triste. A cidade deixou de ser minha no dia em que pisei aqui, desde sábado passado. Os meus gestos, valores, modo de agir e pensar refletem outra cultura. Estranho esta completa distância, o fato de ver uma cidade se movimentando no seu dia-a-dia de longe, e isto permite que eu entenda quem fui, as minhas motivações mais básicas, padrões de reações. O meu estranhamento passado, quando eu vivia aqui e não era nada disso. E era tão isso e não sabia.

A cidade e eu estabelecemos uma relação infantil, que me faz lembrar de uma música boba que diz assim ‘I keep falling in and out of love’. Às vezes, penso que morar aqui de novo seria o maior barato. Provar da sua alternatividade, ter a companhia de pessoas que adoro, estar à parte do que não interessa, dançar seu ritmo nervoso, a sua necessidade de congruência presente numa geração que cresce a meia-luz.

Outras, quando deparo com a suas deficiências, o seu antiquado modo, a sua dependência dos EUA, a sua ligação excessiva a super-estruturas, como religião e tradições passadas, me fazem querer correr para o aeroporto. Tento, em vão, ver a Cidade como uma anfitriã que me recebe de braços abertos, e curtir os dias sem análise, crítica ou opinião. Ainda bem que nada é tão urgente assim, que ninguém me ouve.

Deixe a Cidade seguir sem mim.

Tuesday 7 October 2008

2nd class stamp

Dear Ana,

Resolvi, desta vez, percorrer outros caminhos, fugir das cidades grandes, destes aglomerados de seres apressados. Ficarei estes dias só na Bahia, vendo o pôr-do-Sol do Farol e as estrelas da noite de ontem. Depois, irei ao Sertão, buscar a simplicidade em si.

Não me aguarde para o café ainda, apesar de maturar em mim um desejo de ir-me para Sampa de vez. Sinto que a hora não é agora. Londres está me seduzindo com outros ares que respiro hipnotizado sem pensar ao sair do trabalho e subir a Portobello Road.

Tomei banho de mar hoje após dois anos. Essa pele nova que se apodera de mim é tão auto-explicativa que até me assusta. Parece que agora eu me entendo, pescando frases soltas no ar, corredores de opiniões alheias e olhos estranhos.

Eu vim aqui porque aonde quer que eu more agora, eu vou morar em mim. Um ser aprisionado em si mesmo.

Thursday 2 October 2008

Mensagem para a minha família

Hi Guys,

Hope all is well. I have been looking up the details for arrival and the scheduled time is shown as 17:45. I won't have a penny, cause all my cash will be in GPB. So if you could take 2 Reais with you to buy me an Acarajé, I would be sooo glad, I could weep. Hehehe

Love,
Breno

Sunday 28 September 2008

Contra-tempo

Acordei hoje e me abate a sensação de que algo ficou para trás. Leve, o ritmo da vida se expande como se tudo retornasse ao ponto original. Houve um tempo em que duvidei que aquele lugar no espaço significasse algo que agora quase posso tocar. Como se concreto ou real.

Com o final do mestrado, e uma tese em que precisei usar os meu dotes de design gráfico para tornar interessante, e me desculpar pela falta de pesquisa – que deve ter sido maior do que a maioria dos colegas, mas é pouco para mim – os dias ganham uma amplitude que já desconhecia. Acordei e nada havia de ser feito, razão nenhuma para estudar, ou o-que–quer-seja. Era só este pleno e amplo vazio do momento atual que nos faz pensar. E pensar é bom.

Abri o meu portifólio, abandonado numa gaveta, e reli as minhas palavras de redator de publicidade. Olhos muito atentos. E de repente, pensei na fluência das frases se conectando, o tom crescendo e variando, entre as objetividades e requerimentos de cada campanha. E pensei quase surpreso que aquilo era bom, muito bom, que eu nunca estive muito enganado sobre este dom, este instinto, esta linha de pensamentos que correm dos meu dedos para o teclado. E, claro, senti saudade de mim.

Quando era redator, uma vaga sensação de que aquilo não era trabalho, emprego, carreira, me assombrava. Parecia-me mais um contra-tempo, porque eu pouco lia sobre marketing, e eu tentava transformar os textos em algo puramente bem escrito, altamente bem escrito. E eu não sabia um quinto do que agora eu sei, e ainda assim questiono se não daria tudo no mesmo, se o foco importará mais do que a sedução em si, a sedução da idéia e sua execução.

Resolvi que quando chegar ao Brasil, imprimirei as traduções e adaptações de propganda que realizei. Montar um novo portifólio e esperar que o destino me leve daqui, talvez num navio que passe por Barbados e onde eu possa me sentir sozinho, antes de me reencontar. Andando pelas ruas de Fulham na madrugada da quinta-feira passada, compus uma oração de mim mesmo que começava assim:

Permita que eu nunca me perca de mim
Que eu não me afaste de mim
Que eu esteja comigo
Que eu me encontre todos os dias
Desde a manhãzinha até o anoitecer.
Que eu não me abandone mais
Porque eu preciso de mim comigo.

Enfim, um texto que já escapoliu da memória e que eu não passei para o papel porque eu sou um bobo. E é um texto sobre andar perdido de si.

Lendo algo que um amigo mostrou, veio-me este impulso de querer escrever de novo, de me entender e me explicar para mim mesmo em palavras. Porque eu quis mudar o texto, mover os adjetivos, fazê-lo crescer, e fechar. Eu penso que pela primeira vez me dei conta que não é tão fácil escrever, transpassar os medos, expor-se e ser profissional. Acho que foi a Clarice que disse que não queria ser escritora depois de escrever um tanto de livros. E ela se referia ao engomo, ao processo de vaidade e falta de vivência que leva alguns escritores a serem mais-do-mesmo e regurgitar. Eu tenho medo disto. E eu sou outra pessoa.

Conversando com ele, me dei conta de que eu devo ser um escritor, pelos palpites, pelo olhar, pelo instinto. Há algo em mim que sempre vai estar lá. Eu sei. Só que me recuso a escrever, pois eu não sei me expor mais, eu envelheci. Acho que foi isto, o ímpeto.

Arrumei o quarto como há tempos não, cortei o cabelo, botei a roupa toda para lavar. O quarto continua meio bagunçado. O cabelo curto pede que eu faça a barba, que resiste. E as roupas se pintaram de outra cor após serem lavadas com uma calça preta que destinturou. Preciso decidir se ganhei um guarda-roupa novo, ou perdi. A bermuda caqui pintou-se azul, a toalha amarela, de verde, a camiseta branca e rosa, de cinza e rosa. As cores da minha vida são outras, eu não as convidei, mas elas me fazem querer escrever, de novo, como se fosse preciso, como se fosse a única coisa que faz sentido agora.

Um livro sobre mim. Eu longe de mim perdido neste mundo dos outros.

(Para ler ao som de The First Time Ever I saw your face, cantada por Leona Lewis).

Saturday 9 August 2008

Essa calma

De onde vem essa calma que eu desconheço? Por que será que de repente eu me olhei no espelho e me vi, tão real, os olhos quase tímidos diante de mim mesmo? Os dias frios ou quentes, neste verão sem memória, de Sol banhado pelo vento do Oeste que sempre me faz pensar nas pontes quando anoitece.

Um caminhar pisando em cada pedra esquecida nas ruas, o ar quase convidativo de todas as portas que se abrem, o meu sorriso. Memórias que se corrigem, e eu vi você, e nada mudou, e o meu olhar apontado como uma lança que busca projetos de longo-prazo, uma serenata de fatos tão entrelaçados que nem sequer ouso questionar. Existe mesmo este papo de destino?

Hoje amanheceu chovendo, eu quis te contar. E quis dizer que recusei todos os convites para sair, eu quis estar só. Agora eu me lembro como éramos bons amigos, eu e a minha solidão, o exercício da minha própria personalidade. Agora, que o desespero perdeu o seu lugar. Leve é um adjetivo que eu sempre cultivei.

Outros tempos. Volto a dar a mão a minha solidão, bem-vinda. Acordo, tomo um banho na sua casa, seja você quem for, e me vou. Para os braços da minha amada, a minha solidão. A solidão de quem espera pelo pôr-do-Sol atrás do seu próprio eu, o meu de-dentro. Eu comigo mesmo, porque esse papo de amor é mesmo coisa de cinema, não?

‘Vou deixar a rua me levar, ver a Cidade se acender’.

Friday 1 August 2008

Rotina

Todos eles choram sobre mim. As suas cartas chegam, inúmeras, lotando o quadrado que está sempre à minha frente. Lamentações do homem moderno, gente sem rosto, urgências que não me afligem, nem comovem. As suas lamentações inundam meus dias. Meus dedos tentam ser mais rápidos que os deles. Eles sempre me ultrapassam. Sempre espalhando os seus pedidos nos meus correios. Chovem cartas ao invés de gotas, no escritório cinza.

Vez ou outra, me occorre lembrar que para toda pergunta deles, há uma resposta em algum canto. O homem moderno me incomoda porque carrega consigo a preguiça dos impacientes, o vício do serviço ao usuário, um desperdício. Há uma sessão chamada FAQ – Frequent Asked Questions, e lá encontram-se todas as respostas do mundo. É como um dicionário da estupidez alheia. Eu leio as cartas, as suas palavras se repetindo, uma melodia triste e apoteótica para os meus ouvidos cansados. Please, it’s urgent.

Vida de serviço ao usuário, é só parte das minhas funções, mas, ah, como me tira a paciência. O ser humano demandista, o ser humano, o ser.

Vez ou outra.

Thursday 31 July 2008

Essa palavra que é só nossa

Andando por Covent Garden, observo a chuva caí e o céu pintado de cinza me faz pensar que há tempos não presto atenção no que é sutil e torna os nossos dias mais leves. Hoje, o festival de guarda-chuvas é o meu alvo, a sua mutiplicidade de cores e donos desatentos se esbarrando, em caminhos curtos e estreitos, refugiando-se dos pingos que insistem em soltar-se do céu. As poças d’água são motivos para pequenos saltos, cortando o caminho e apressando o passo de um alguém sem destino pré-definido.

Vou-me entre a multidão com um desejo de estar há alguns milhares de quilômetros de distância, do outro lado do oceano, naquele país que chamo de meu. E não me sobra muito de lá. Passo a praça, deixo a igreja para trás, desvendam-se ruelas com pequenas galerias de arte e cruzamentos; atravesso a rua.

Uma garota de cabelos castanhos e olhos bem azuis me sorri e pede para tirar uma foto. Estou segurando um guarda-chuva preto, com a minha calça jeans molhada, um sapato encharcado e uma camisa rosa de botão. Ela pede para eu fazer a mesma expressão de dez segundos atrás. E pergunta ‘What were you thinking about?’, e eu sorrio e digo que já nem lembro. O tempo é uma armadilha para aqueles com memória exemplar, carrego sequências de imagens demais comigo. Encosto-me na vidraça de uma papelaria, ela pede para eu olhar para dentro do estabelecimento, e enquanto a sua lente move-se para frente e para trás, buscando um foco para retratar o que sinto, observo alguém desenhar uma imagem ainda indefinida, rabisco. O flash dispara, ela me entrega um cartão, vira o fundo da sua câmera digital para que eu veja a foto e conta que haverá uma exposição, a data está nas costas do cartão, apareça, você estará lá de qualquer maneira.

Contrariando qualquer previsão, a foto retrata exatamente o meu pensamento, os olhos distantes, um respirar interrompido capturado no momento exato. Fico cá com a explicação que não dei. Como se explica a palavra saudade para um alguém que não fala a nossa língua, sem perder a sua poesia, angústia, dor, relento, magnitude?

A chuva cessa, o Sol não vem. Penso no de onde surge de tempo em tempo essa necessidade de pegar um avião e embarcar para onde o céu é mais azul e há estrelas na noite, e concluo que o bom de estar cá é saber que sempre haverá um outro lugar para voltar, uma chance de mudar tudo e regressar quando chegar a hora, se um dia chegar. Que o bom de morar fora é, como diria o Hebert Vianna, “ser dois e ser dez e ainda ser um”.

Concluo também que saudade é uma palavra que nunca deveria ser definida com palavras, quando outros artifícos podem ser usados para expressá-la.


--

originalmente publicado aqui.

Saturday 19 July 2008

Second Class International

Cara Ana,

Beijar como escrevo talvez não seja bem o caso. Meu beijo tem nuances que dependem tão pouco de mim. As ondas que os outros me passam, quase sempre me certificam que eu me anulo um tanto quando beijo. Anulo, quer dizer, meu beijo depende tanto de mim quanto da outra boca, da outra pessoa e o que ela provoca em mim. Eu não me expando se não rolar um click porque um beijo é algo que eu não sei fazer sozinho, como quando escrevo. Então quando beijo, eu sou apenas parte daquilo em que me envolvo. Eu não dou beijos de mentira. O meu beijo nunca soube mentir. Fosse eu alguém que finge, talvez eu fosse o maior beijoqueiro desta cidade.

Acho que o caso é amar como. Amar é sempre eu comigo mesmo.

Luv,

Breno

Wednesday 16 July 2008

Give it back to me

O telefone toca. O telefone sempre toca quando não é hora. E eu que nem lembrava haver enviado um currículo para outros lugares que não aqueles que me contrataram, porque eu sempre esqueço quem esquece de mim. Era uma agência de tradução, outra, elas agora todas me querem, a minha habilidade linguística. Eu só queria beijar mais do que escrevo.

O telefone toca também por um amor que eu não quero. Eu sou foda. Quando resolvo não-querer, empaco como uma mula. Eu não quero o amor que os meus amigos consideram bom pra mim. Eu detesto ter total controle da situação. Alguém que me venera. Se o telefone toca-se agora eu não atenderia. Ele e os seus pulinho ridículos em cima da mesa, e o seu gemer automático, puff, não é a hora, não agora.

O telefone toca nesta manhã de segunda-feira e eu me vou para a beira do rio. Entre os ingleses que usam ternos e pegam trens, nervosos, o relógio cada vez mais apertado no pulso, pegando take-away pelo caminho. Eu sou um deles hoje, estou tão atrasado. Putz.

Subo o elevador para traduzir algo para a Jaguar. Ah, o meu currículo está ficando ‘do caralho’. Clientes internacionais o decoram e eu penso no porque que aquela agência de escritores não me ligou. Foda ser do Brasil, vez ou outra, os projetos são tão poucos. Por que será que a economia não pega logo um elevador e me ajuda do lado de cá? Ser brasilerio só é bom porque a gente é foda, a gente inclusive se acha melhor, mais feliz, mais esperto. E também menos um tanto de outras que fingimos não dar importância.

O prazo do mestrado se aproximando, e eu só escrevi mil palavras. A tal empresa onde trabalho lançando a versão Mac do software, e eu correndo para a tradução, porque eu gosto de usar o meu vocabulário, escrever na minha língua materna, pura vaidade. E o tempo que era tanto, agora anda tão raro que só me resta escrever algo bobo e sem sentido.

Quero meu tempo de volta. Ser vagabundo part-time é uma sensação incrível.

Thursday 10 July 2008

formigas

Hello,

As you know the people came from the council yesterday about the ants.They have left a notice in the kitchen about what you have to do. They asked me to point a few things out about the treatment. It will only work if you cover ALL the food, there must be nothing for them to eat at all. This includes even the crumbs in the toaster which they said needed cleaning out. I did that but it needs to be emptied every time its used so there are no crumbs left. The food in the cupboards needs to be air tight. If possible in Tupperware containers.They even said that food left out in a bowl needs to stand in a larger dish filled with water to create a moat a round the food so they can not cross it !!! that is what is needed to get rid of them. Also the packets of poisoned food on the walls near the ceiling need to be replaced if they empty them. They said that if they are emptied, then take the ones on the base of the units in the kitchen, and put them on the wall. As that is where they are most likely to be coming from.It may take from two to six weeks for them to take all the food, but they will only take it if they do not have anything else to eat.So can you please watch the levels and move them if necessary. If the food is all taken before the six weeks is up, let me know so I can arrange a second visit and they can relay more poison.If not then I will call them for the second visit in six weeks time. Also do not kill any ants, they must survive to go back to the colony, so they have to be left alone.

--
tudo porque apareceram umas poucas formiguinhas!

Monday 7 July 2008

bronquinha

Reclamo do tempo que me sobra, mas no fundo faz tempo que não me sinto tão bem. Até a falta de grana me é positiva. Procuro alternativas, vejo lugares em que não entraria, pesquiso as esquinas da Cidade escondida, torno-me um intruso num mundo que não é meu.

Tempo de sobra e falta de dinheiro é uma combinação que inspira. Desde que a geladeira esteja sempre bem estocada, claro!

Sunday 6 July 2008

desmoronamentos

Confesso que desisti de brigar comigo mesmo. E já não sei os caminhos. Esse desmoronamento de tempo é algo peculiar e estranho. Horas passam enquanto escrevo coisas que nunca hão de se completar. Roteiros de filmes, crônicas, poesias de bar, contos. A Cidade acontece lá fora, fico no meu quarto, contando os centavos, sem um puto.

Não quero mais fazer nada daquilo. Liguei para casa para pedir dinheiro e isso significa que o resto de orgulho que um dia tive se esvaiu. Após quase quatro anos, me resta um pouco de força para terminar o mestrado e resgatar a mim. Andar pela Hoxton Square num sábado a tarde, sem as tuas mãos para segurar, e ainda assim respirar este alguém que eu só agora entendo que nunca desaprenderei a ser.

Cresce em mim um sentimento absurdo de crueldade com o mundo, preciso repetir. Uma exatidão de sentenças construídas no ar que encaixo com força nos espaços vazios displicentementes deixados por vocês todos, no seu disco arranhado e antiquado. Quero escrever sobre as minhas dores. Mas temo não saber expressá-las, como se o papel nunca contivesse linhas suficientes para esclarecê-las, seus motivos mais essenciais. Rascunhos se atiram suicidas nas latas de lixo.

Logo agora que tenho tanto tempo e nenhum centavo, vejo-me obrigado a escrever. Mas então, escrevo a tese do mestrado e abandono a ficção mais uma vez.

My thoughts are crabbed and sallow.

--Sylvia Plath, "Jilted"

Friday 27 June 2008

Lá vem o Sol

No dia 23 de Junho, o tempo virou. A partir de agora, a cada pôr-do-Sol, os dias ficam mais curtos, e a noite perde o seu ar de extensão das manhãs. Li esta informação no metrô, numa folha interna de um jornal gratuito abandonado no banco por alguém. De cara me ocorreu a tendência ao negativismo de alguns, um verão inteiro pela frente, os parques, reunião de amigos, churrasco no quintal, e o pensamento lá na frente, antecipando escuridões.

Continue a ler
aqui.

Tuesday 24 June 2008

Ataque ao romantismo

Eu vejo o caçador, chapéu de cor caqui, entre os matos que cobrem a sua figura da foto. A sua espingarda repete movimentos verticais, compondo uma curva de um gráfico reverso no ar. Segue os pombos que ousam voar e levar as minhas mensagem para ti. O caçador é certeiro. As pombas despencam do céu uma a uma. As cartas de amor que te escrevi, nunca chegarão. Vão se desfazer com a chuva de amanhã, enquanto as pombas apodrecem no chão.

[In English]

All I can see is the hunter’s light brown hat among the bushes. His rifle repeats vertical movements, composing a curve of a reversed graph in the air. It follows the pigeons that dare to fly and carry the messages I have sent to you. The hunter is accurate, skilful. The pigeons fall off the sky one by one. The letters I have written to you won’t arrive. They will dissolve tomorrow when it rains, whilst the pigeons get rotten on the ground.

Sunday 22 June 2008

Nervos

Já tinha chegado à conclusão final e dado um ponto à frase escrita de caneta preta sobre o papel reciclado e regurgitado por mim outras e outras vezes sobre o romance que não virá. Ensaiei a vida sem ele, o tal romance, e cheguei à conclusão de que a minha criatividade é o meu maior veneno, de que sou capaz de inventar motivos e fazer crescer o que nem houve tempo, pensar projeções muito distantes para aquilo que nunca chegou a ser. Então, me vem este alguém que eu jamais poderia ter criado, que mostra as suas inseguranças para mim, este alguém real que me faz pensar que já sou grande o suficiente para entender que toda emoção à mais é bobeira, e que embora me faça sentir apertos a cada três ou quatros minutos, inibe os meus atos, e me faz querer fazer tudo diferente, sem saber.

Este alguém que não me beijou na segunda noite, que me sorriu, e colocou as mãos muito próximas às minhas, e esteve o tempo todo falante e com o corpo projetado contra a mesa que nos separava num jantar de quinta-feira à noite, mostrando um interesse que eu talvez equivocadamente tenha classificado como mútuo. E eu não soube criar um clima para o beijo, nem à beira do rio Tamisa, quando as luzes artificiais começavam a roubar a cena e o Sol se ia. E eu sempre fui muito bom em criar motivos para um beijo.

Mas talvez, eu, na minha maior rendição perante as lições que o tempo me traz, não tenha tido a iniciativa necessária para forçar a barra, porque eu quis este alguém por perto, mesmo que tudo seja apenas uma amizade que irá me castigar vez ou outra num suspiro da possibilidade que talvez não se concretizará. Eu já gosto tanto deste alguém, mas ainda posso esquecer, sem me machucar, sem cena de cinema, ou o que quer que seja.

Também porque eu sei da eficiência das companhias telefônicas britânicas e aquela mensagem não voltou, e talvez isto seja tudo. Logo agora que eu banquei o investigador e me concentrei em saber quem este alguém era, sem adicionar fatores que só existem na minha imaginação, como qualquer ser humano normal faz, atribuindo valores ao que é relativo, repetindo cenas na sua própria cabeça. E eu me mostrei tão cru, quase como uma frase curta que diria assim, este sou eu, sem algum esforço em realçar qualidades, o charme, na esperança de que este alguém possa gostar de quem sou.

Everybody loves me, that’s what they say. Amigos sempre repetem a frase ‘eu te adoro’, e se é em inglês, sempre escuto, ‘Breno, we love you’. Por isso, pensei que talvez fosse possível agir como adulto, deixar o romance chegar sem pressa, mas me atormenta o fato de não saber ser um pessoa menos urgente, e eu sei que o tempo deles é diferente e coisa e tal, e porque fazendo tudo diferente eu receio não ser eu, quando eu mais quero. Ser um conflito de mim mesmo.

Este alguém que eu adoro e quero por perto, que me fez bem, que me fez pensar que talvez nada seja assim tão complicado, mas simplesmente possível. Mas que me deixa sem saber com agir. E até sem saber escrever sobre o que eu ainda não entendo.

Sunday 15 June 2008

I’ve got news for you

A caixa de imagens dita as notícias para mim. De repente, após estes quase quatro anos de total reclusão, elas voltam a importar, ficam aprisionadas no meu crânio, ao invés de transpassar de um ouvido ao outro. É um estar estranho dentro de mim. Dou-me conta de que nunca houve este mundo só meu, os fatos lá fora interferem nos meus atos, muda a minha rotina, embora eu as tenha desprezado como se não.

O preço do óleo mais caro, puxa o preço do metrô que não consegue se mover sem a voz eletrônica pedindo desculpa e agradecendo desde já. Quarenta mil pessoas mortas na China me comovem no noticiário, a minha voz interna diz que se deve dar importância. Notícias de guerra. Vejo os acontecimentos e atribuo-me a distância necessária para estar bem. Sim, eu acho tudo muito sujo e vazio. Eu não posso mudar nada.


Encho-me de uma certa arrogância e crueldade, algo que de súbito me assusta, carrega as minhas certezas num baú com a seguite frase rabiscada – não abra. Penso que é preciso centrar-me, vestir-me de uma certa objetividade e seguir. É a primeira vez em muito tempo que seguro o destino pelos cabelos e digo ’é por esta direção que quero ir’.

Sunday 8 June 2008

Um amor do passado

Jay saiu às nove horas, levando-se para longe, onde ficam as memórias de quatro anos atrás. Eu quis evitar a sua despedida, num pensamento ébrio e fugaz. Pedir para ficar seria um engano. Talvez aquele número de telefone nem seja correto. Eu decidir não ligar. E já apaguei. Apagar é um ato sempre impensado. Se o telefone tocar um dia no futuro, talvez numa manhã de quarta-feira, atenderei surpreso, e perguntarei: quem fala? Decidi que o telefone não vai tocar, sou eu quem escrevo, eu crio o que bem entender. Mas a vida insiste em driblar as minhas linhas, seus atacantes hábeis e sempre mirando a frente, me escapam da rede dos meus domínios. Se Jay ligar, farei uma voz engraçada e direi que é engano. Jay não ligará. Jay já apagou também.

Saturday 7 June 2008

news

agora escrevo aqui também!

Thursday 5 June 2008

fragmentos

do que nunca será um livro

Bato a porta. A porta se fecha por trás de mim. Não há outra direção senão os desvendamentos da frente. Os caminhos são os mesmos até quando as ruas são outras. Pouco importa o roteiro, estar dentro de mim é quase sempre um caminhar sem rumo; aonde eu vou, eu me levo comigo.

A cidade se repete às vezes, é uma cidade que nem sempre sabe ser, uma cidade em crise. Eu moro aqui. Moro aqui há tempo demais para saber que as ruas idênticas são repletas de outros significados. Eu queria saber escrever sobre a cidade, mas a cidade sempre chega ao fim antes de mim. A cidade sempre vence.

Saturday 31 May 2008

Sobre deixar o emprego que tanto adoro

É preciso crescer, diz a mãe natureza, desde que nos entendemos por gente e ela arranca os nossos dentes, nos enche de pêlos e desejos, e só pra sacanear, nos transforma em alguém cada vez mais parecido com os nossos pais. Ah, a fila-da-mãe.

Pois é, neste vão de acontecimentos, eu fui a uma entrevista numa empresa de tecnologia digital-gráfica. Por algum motivo inexplicável, eles acharam que eu preenchia as exigências e me deram este emprego com horário conveninete, salário maior e pouco trabalho. Os amigos felizes, me incentivaram, disseram que é o começo desta nova fase, pós-mestrado, e coisa e tal. Mandei todos tomar no cu, de uma forma ou outra.

Sair da livraria é abandonar um pouco este meu lado pseudo-escritor. Fez-me ver que eu vivo uma ilusão de que há tempo, de que a minha alternatividade combina com este mundo quadrado e movido a dinheiro. Eu sou um capitalista, um fila-da-puta de um capitalista. Fui quase todos os dias enfezado, de pouco papo, como se eles tivessem me colocado numa armadilha da qual não pude recusar. Quem diria, um emprego que eu tanto quis.

É um lance engraçado estar dentro de mim, eu sou a pessoas mais confusa do planeta. Eu quero sempre ser dois, fazer 402 coisas ao mesmo tempo e coisa e tal. Aí me falta tempo, dedicação, espaço. Estou tão triste por ter que sair da livraria, deixar aquele bate-papo gostoso com todos aqueles quase artistas, ou artistas ‘to be’. Aquela atmosfera de gente talentosa e desperdiçada, auto-sabotagem.

Fico eu agora, bancando o adulto naquela empresa, em que as pessoas são tão legais comigo, reclamando, de mau-humor, fazendo tudo no automático. Ah, eu preciso tomar vergonha na cara, e crescer. Encarar tudo com seriedade e objetividade. Eu preciso ser menos Eu, só para variar.

Friday 16 May 2008

Mentiras

O espelho, meu pior inimigo. Mesmo quando as canecas vazias das minhas lembranças denotam tristeza, o reflexo não se altera. O mesmo rosto jovem e harmônico. Mentiras. Eu nem preciso falar para mentir. Sou um mentiroso calado, involuntário. Um sopro que você expira e depois cospe, sujando a rua da Cidade cinza. Mesmo quando sou irresponsável e torto, e deveria carregar em sacos pláticos pretos as culpas que abandono. Mesmo assim, o espelho. Não se altera. Eu vou cobri-lo como em ‘o retrato de Dorian Gray’, e depois varrer a rua que você irresponsavelmente pisa. Eu vou raspar a cabeça outra vez.

Saturday 10 May 2008

Auto-retrato

Auto-análise, um subterfugio que criei para levantar paredes para o meu próprio campo emocional. Compreendo cada passo que o destino dá, autoritário, sem consultar o zodíaco. Deve estar escrito em algum lugar. O meu ser ariano, as culpas, insegurança.

De onde vem este pulsar tão equivocado, o desespero? Certa vez, ouvi dizer, ou li, já nem sei, talvez tenha até mesmo inventado – eu acredito tanto no que mesmo crio – que romantismo é fraqueza. E você entende o tipo de romance a que me refiro,
Ana. Eu sei.

Lembro, assim tão vagamente, de ser uma criança carente, o único com a caixa de fotografias quase vazia. O meu pai era fotográfo profissional. Os meus irmãos tinham fotos e mais fotos. Lembro da minha mãe sempre muito ocupada, as nossas contas vencendo, a chuva que molhava a casa por dentro, de vez em quando, as bebedeiras do outro, a nossa obsessão por educação, numa rua em que a maioria das pessoas mal sabia ler direito. A imagem que nunca combinava com nós mesmos. Eu sempre tive esta consciência de ser muito inteligente e relapso. Eu sempre precisei de atenção.

Projeções de amores perfeitos, as coisas que eu lia. Uma carência tão grande. E o modo como TODOS gostavam de mim, porque eu era cool, o meu modo sempre muito diferente de ver a vida. Não percebi o naufrágio, o quanto as derrotas, os amores perdidos ficaram em mim, mas do que as vitórias e os amores conquistados.

Foi tão engraçado chegar em Madrid e andar pelas ruas de madrugada bêbado como um cachorro, sofrendo a solidão de estar só no mundo, tão perdido. Eu sei que projeto no outro um ideal que não existe, e o fundo cavado e virado ao avesso disto tudo é que eu não me dou o devido valor – foi preciso ler a Anais Nin para entender. Mas eu não consigo sacar você, de onde vem a sua lamentação, quais são os seus medos, quando você escreve tão de cima do salto, tão segura de si. E porque você tem olhos claros.

Eu me arrebento, Ana. Eu faço as besteiras mais estupidas e peço a Deus para me punir. E eu nem acredito. Eu queria, um dia, escrever um romance. Eu sempre roubei das minhas vivências para escrever. E eu descobri agora, faz pouco, que o meu bloqueio está neste distância que eu mesmo impus a mim de mim mesmo. A falta de sinceridade, as palavras medidas, o meu respirar protegido. E o romantismo morre, por não querer ser mais doce, por ter visto o mundo, a sua boca enorme e faminta, e a sua mediocridade.

Eu procurei tanto nos outros aquilo que estava em mim. E não encontrei. E eu não sei viver só. E eu não quero mais criar outras vivências, me apaixonar por qualquer chance de amor. A gente ama tanto a quem não conhece. Amor é quase sempre sinônimo de ignorância, não? Até que se torne amor. Ou costume.

Ah, Ana. Eu queria não pensar nos motivos que me atormentam nas noites de sexta-feira. Eu sempre achei que alguém iria descobrir que sou especial. De uma forma bem infantil, eu carreguei isto revestido de uma maneira mais adulta, porém com o mesmo inútil sentimento. Eu carreguei a carência do menino de seis anos de idade, a necessidade de que todos me amassem. Eu me perdi.

Estou repensando, analisando, julgando, me fechando de novo, perdendo no jogo. E é neste momento que fico mais interessante, o meu eterno blues, o jazz que toca nas manhãs de sábado no apartamento do vizinho.

Eu quero tanto um relógio de pilha, um playmobil, uma bicicleta chamada Gina. E a minha consciência diz que se deve andar para a frente, não para trás. Então eu leio isto, do Caio Fernando, e me apavoro.

‘Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa’.

E uma citação da Camille Claudel

‘Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta’.

Eu compreendo bastante o que significa esta minha fulga, este tempo todo fora, e o quanto eu perdi de mim. Rein-vento-me. Busco mais pelo que perdi de essencia, tento livrar-me da racionalidade excessiva, o saber. Tento e não consigo. E não consigo. E não consigo me livrar dos medos do menino. Do amargo da boca do adulto. E não consigo lembrar de mim
.

Monday 5 May 2008

recado

Para as pessoas que se preocupam.

Não se preocupe por mim. Escrevo quando a tristeza transborda e isso nada mais é do que um correr de dedos. A vida tem me feito amargo demais. Triste demais. Tristeza é algo que demora tanto de aparecer, mas quando vem, agora, é de uma profundidade tão absurda. Nada me sufoca tanto quanto a certeza do não.

Os dias se perdem em folhas de calendários arrancadas de vez. Nada me parece fazer sentido. Já racionalizei tudo, e me sinto tão só, tão abandonado. Sim, são as minhas escolhas. Eu queria chorar um rio vermelho, se isso fosse mudar algo. Eu já nem sei mais escrever. Ando tão medíocre. Isso me dói.

Os textos estacanram numa idade tão adolescente. A vida segue e não. Os passos são todos na mesma direção. Eu queria ser comum. Eu me sinto ordinário e imperfeito. Menos do que o sujo do sapato. Diferente. Eu queria não sentir nada disso, mas é tarde, e não há mais volta. O rapaz que dormia no frio morreu de tuberculose. A rua nunca mais ouviu o seu grito: Big issue.

Eu quis um outro verbo menos egoísta e mesquinho do que querer no passado. E ainda assim, ele é tão meu. Eu ando lendo e traduzindo a Sylvia Plath, pensando que não tenho talento algum, maturidade. Está tudo cinza. Eu quero ser menos emotivo, menos eu. Eu quero 452 passos para frente, sem olhar o caminho. Um empurrão do destino, sorte, convocacção, estas coisas que só não acontecem comigo.

April, 18 – Sylvia Plath.

O sujo de todos os meus ontens
Apodrecem no escuro do meu cranio

E se o meu estômago se contraísse
Por um motivo inexplicável
Como gravidez ou constipação

Eu não me lembraria de ti

Ou se por causa de um sono
Infrequente como uma lua de queijo esverdeado
Ou se por causa de comida
Nutrindo como folhas roxas
Ou se por causa deles

Dentro de umas poucas mortais jardas de grama
Ou em pequenos espaços de céu e copas

Um futuro se perdeu
Tão facil e irreparavelmente
Quanto uma bola de tênis ao pôr-do-sol.

--

Eu estou bem. Só não me resta mais aquilo que um dia eu chamei de futuro. Desacreditar é um processo foda.

Wednesday 30 April 2008

por um português mais correto

O meu teclado aprendeu a falar Português.

Dica:
Control Panel
Date, Time, Languages, and Regional Options
Regional Options
Ao lado de Customise, selecione: Português do Brasil
Apply
Language
Details
Clique em Portuguese Brazilian
Add
Apply

Pronto, nem cinco minutos. E nós que precisamos de tantos anos. ;D

Thursday 24 April 2008

new all*star


Ateh pensei em mudar o nome do blooogh para 'o rapaz de all star azul'. ;D

Sobre o som

As mudas e miudas plantas de pensamento brotam com o passar do tempo. Eu quis te contar refugios, negacoes que nao vociferam. As melhores linhas que ja escrevi nunca ganharam o papel. Eu quis gritar o seu nome. Nesta ciranda do ser humano em projetar futuros, esconde-se os porques mais duradouros. Auto-analise, papo com o de-dentro. Luta por decisoes nada faceis, um destino incomum, venenos. Desejo eh algo que nem sempre eh possivel. E quando a esquina da Munster Road estah chuvosa, eu sempre penso em guarda-chuvas. Impossibilidades, jah estou encharcado. Os projetos se atropelam, ninguem parece ouvir o que digo. Insistencia eh algo que cansa tanto. Reclamar eh balela. Solucao eh o que se esconde onde eu nunca vou. O que se perdeu, passou. O que virah, eh o improvavel. Eu rasbiquei umas linhas de lapis preto e deixei secar. Nao dah pra ler ainda, nem em voz alta. Os sons inalados, gerundios que caminham para dentro. Reverso. Comeco e fim.

Sunday 20 April 2008

resumo


[do que tenho lido]


trecho

Ms Sally

Each human being is responsible for his/her own prisons. I’ve built up walls throughout my entire life, allowances and indulgences subordinated to questioning and judgement. Not always I was afraid of what I truly desired, or afraid of my impulses; afraid of me. I was concerned with that line so untouchable, so invisible, that sometimes I would not notice my patterns of behaviour obeying unquestionably its demand: the eyes of others. But John came and swept it away. I admired him, for his lack of interest on what they call ‘common sense’, centuries of stupidity carried through by one only reason: fear. Yet, we understood the reasoning of order and discipline. We just did not share its main principle: taking away one’s freedom.

Avessos

Tudo mudando de cor
As cancoes que eu nao soube compor
Redemoinhos
Um fim

Revisao de dedos finos
Apontados para um espelho
Que nao aprendeu a sorrir
Sono

Fito o infintio
Conjucoes de imprevistos
Que se recusam a ser
Confuso

Um sapato cheio
De espinhos e ratos
Descarga
Espasmo, dor

Friday 11 April 2008

Amsterdam nunca existiu


Ou

A cidade nunca foi minha.

Voltar quatro anos ao passado me fez perder uns sentimentos cultivados sem razao, excessos de vivencias do mundo, apego ao que nao me pertence. Entre as ruas, os canais, as pessoas que eu nao sabia classificar, recuperei aquele ar distraido, desatento aos porques alheios. Em resumo, essa manina idiota de estereotipar a tudo, e como ver o mundo de cima do muro me agredia.

Fazia frio, e eu me vestia quase leve, usando esta resistencia londrina que se apegou a mim. Fui ao Museu do Van Gogh, ao Rijksmuseum, a casa da Anne Frank, e vi absurdos da guerra, obras de arte, orgulhos de uma nacao. Era quase um intervalo de mim mesmo, entre estas horas corridas na Cidade. E vi tambem o Red Light District, com as suas putas belissimas expostas na vitrine, me sorrindo. Ouvi algo engracadissimo nesta caminhada:

- Baby, someone who smells as good as you can’t possibly be out of money.

Mas ela nao sabia que o perfume foi presente de um amigo. E mais: que eu nao teria um puto ao voltar a Londres se gastasse um centavo a mais. E eu nao a desejava.

Ficar na casa de um casal amigo fez-me um bem incrivel. Faltava-me este ar de casa de familia, discussoes de gastos e planejamentos, cotidianos, rotinas. Esse meu-estar solto e perdido pelo mundo cansa, faz-me sem estrutura. Eu quis ter casa, em Amsterdam, um lugar para compartilhar com alguem. Pensei em amor, relacionamentos, revi todos os meus impulsos, entre as viagens no cafe, comendo brownie recheado com ... e passando mal horrores, tendo visoes de que as coisas haviam perdido a sua materialidade, a sua firmeza, enlouquecendo entre as minhas piracoes, pensando paranoias e dores.

Leve foi tudo que seguiu-se apos uns drinks, na noite. E eu pensei que poderia nunca mais gozar na vida! ;D Porque eu jah experimentei tanto e nao achei e estava tao cansado. Mas os erros eram mais meus, eu nao posso brigar com o mundo, nao mais.

Enfim, uma semana de total liberdade e pausa. Sinto-me tao mais leve agora.

Wednesday 9 April 2008

do not believe your eyes


dois trechos

Thursdays

It is Thursday. I am sad. I spilled coffee on the carpet, first thing in the morning. I put soap on a sponge and did my best. But it would not go. Then, when I tried to stand up, I knocked my head against the door. I felt like crying. I do not know what I would cry about. I do not know why it is Thursday and it has to be like this. I just woke up and outside was grey. I just felt like having some coffee. I could not have it. The powder was finished. My eyes were decorated with tears. I could not cry. It hurt. It was another Thursday. Another Thursday morning, and I hated it.



Deconstruct

I want to be honest with you. I have kept this very secret because I assumed there would not be understanding and I would have to use your words as if they were mine to make it clear. I read a book called Alexis, and you know how much I hate titles that are names because I am always struggling to find simplicity. And then it gets dark and late, and I give up. I bought that bottle of wine, we drank, and everything got light and foolish. I mumbled, you said ‘what?’; I gave up because it was dark. And I am no fool. I wrote a piece about John and me. I called it John. I thought you could read it. It was not a simple decision. But then again, nothing really was.

Monday 7 April 2008

a eterna p!

'the more I read Dotoevsky the more I wonder about Henry and June and whether they are imitations. I recognize the same phrases, the same heightened language, almost the same actions. Are they literary ghosts? Do they have souls of their own?'

lendo Henry and June em Amsterdam, me pego questionando o ser humano, a necessidade do ser em se abstrair em atos, como se eles fossem capazes de compor uma existencia. pffff

Friday 4 April 2008

I amsterdam

No meio de toda esta confusao sentimental, peguei um aviao para Amsterdam, enquanto leio a Anais Nin e escuto trechos que nao se tornam sons mas me sussuram fatos do Clichy.

As putas me sorriem no Red Light District, me perco entre as portas abertas e convidativas, recuso-me a entrar num cafeh ateh segunda-feira, observo, me perco, vou a museus como se o mundo tivesse pedido um minuto de paz e silencio.

Estranho voltar aonde tudo comecou, quatro anos atras, e eu ja nem sou aquele rapaz que um dia teve medo de pisar no mundo. Os caminhos sao todos meus.

Wednesday 26 March 2008

wondering...

nao eh que eu seja uma pessoa desequilibrada, eh que vez ou outra eu lhe apresento os meus fantasmas. boooooh

Thursday 20 March 2008

Inexplicacoes

Flashes do pasado rondam a minha cabeca. Resgates de memorias que se evaporam de alguma fonte desconhecida, refugio do insondavel. Vem-me imagens esporadicas, emocoes positivas, quase saudades.

Andando descalco no sertao da Bahia, com oito anos, correndo atras de peixinhos no rio ralo que banha a estrada por onde passamos. Seguido de uma visita a uma casa muito simples, forno de madeira, comida caseira.

O sol se pondo atras do farol, o cheiro da grama varrida pelo vento, o ceu mudando de cor, serenatas de degrades se decompondo num ponto em que nao posso tocar. O espasmo, a luz artificial, o mar.

O ser familia, o almocar junto, o brigar, o gritar, o nao precisar de desculpas, as falhas, as risadas compartilhadas, os amigos, ah, os amigos, a minha alternatividade entre as ruas de um pelourinho recem-reformado, decorado e tao decadente, nao saber me ser e ser tao eu, as renuncias, o ar modificando-se no cigarro de menta da minha prima que me gira num passo de forro na praca da Dinha, enquanto o excesso de alcool e a mao dentro do bolso tocando a chave do carro me faz pensar em desistir, e querer recomecar.

Lembrancas que surgem sem um porque, um porem, que necessitam de analise, num momento em que o meu corpo arde de novo, que diz nao ao nao, que compreende as origens dos pontos de nos no novelo de la, a complexidade do meu ser. Desejos imensuraveis de me enfiar nuns lencois alheios - ah, como a Anais Nin tem me feio mal com o seu diario, por que serah que adoro diario de escritores, por que escrevo este blog? – de me perder novamente, sem a busca de amor – foda-se todo o choro, querer o gozo, a culpa, o andar vazio e feliz.

Inexplicacoes de mim mesmo, uma torrente perversa, auto-injecoes. Eu soh sou capaz de agredir a mim mesmo, nestes momentos, e ainda assim, sem querer, sao os outros que saem feridos, sao eles que compram a imagem do desvario sedutor, da consciencia a mais, do romance impossivel, sao eles que infiltram estes retratos no album das fotos que eu nao tirei.

Querer me centrar, fugir do perigo de mim mesmo. Fugir de mim.

Monday 10 March 2008

Entre eu, voce e todo mundo que le essa cachaca

Viver eh um lance raro, entre os compromissos do dia que nos roubam esse respirar de cafe da manha com calma, sentados no jardim que nao temos. Eu acordei, chovia. Eu quis gritar.

Voce andava por entre ruas de nomes esquisitos. E me ligava soh para contar que fevereiro passou. Por um momento, eu pensei que tudo que me faltava era cozinhar. Dispus os ingredientes sobre a mesa, e entao a vontade foi embora. Faz tempo que eu me pergunto o que eu faco. (serah que eu necessito de uma interrogacao aqui para expressar minha duvida?)

A tarde veio, pensei em retornar a ligacao que eu nao atendi. Sorri ao pensar que as pessoas lerao anuncios traduzido por mim no Brasil, por todo marco. E quis gritar.

Voce deixou uma mensagem desaforada. Acontece, que agora qualquer palavra me atravessa sem tocar. Nao eh engracado isso de levar tanta porrada e nao pensar: eu nao me importo mais. Sofrer eh algo muito desnecessario. Se voce tira o peso, o que fica?

Lia um trecho que dizia assim: ‘I want his love to die’, da Anais Nin. Eu tava preso com corrente aquelas leituras, as paginas do livro se alternando involuntariamente. A campainha tocou.

Quando abri a porta, voce me disse com alguma ansia: Fevereiro se foi. E eu entendi pela primeira vez que estamos mesmos envelhecendo. Eu quis gritar.

Monday 25 February 2008

Sobre amor, passados e um cafe da manha num domingo

Ensaio uma certa distancia de mim mesmo. Nos todos temos motivos para atos impensados. Como ao ver um amor do passado, nao resistir e dizer: ‘eh uma pena, eu te amei tanto’. Do alto de uma sinceridade tao devastante, de nao procurar respostas no rosto do outro, de simplesmente partir e se perder por ai. Nao por causa de ninguem, mas por si.

De certa froma, entre os vagoes daquele trem e o balancar do onibus, apos racionalizar os meus sentimentos e me sentir confuso e cansado, fica a impressao de que o meu nao amar ninguem eh uma defesa fodida. Concha fechada, sem barulho do mar. Lendo as cartas do Caio Fernando Abreu no domingo, me peguei com umas frases grudadas a memoria, e quis chorar. ‘Por tudo que se perdeu’.

‘Eu nao quero ter vegonha de nada que sou capaz de sentir’. – nas cartas.

Eu tava tao bonito, naquele limite de quem eu sou, no limite dos tracos que envelhecem aos poucos, eu tava de bem comigo, vestido no meu estilo serio-alternativo, eu tava tao bem, que tive de beijar outras bocas e dizer nao, nao me importo.

Fiquei esperando por uma certa tristeza, que nao veio, soh em alguns momentos raros. ‘O grande amor da minha vida, nao me doi mais’. Ai, que estranho. O se encontrar e descontrar, tao urbano, como diria o Caio. E eu mudei tanto. Sou tao mais interessante e como aprendi a domar a minha solidao, preenchendo-a com amizades.

Acordei, a agencia de propaganda Londrina me ligou para uma traducao, de um roteiro e um anuncio da BASF, num domingo! Sao tao raras estas ligacoes agora, os projetos em Portugues do Brasil sao tao poucos, que nao pude dizer nao.

Vim a universidade, a vida segue o seu ritmo normal, tao de bem comigo, tao estranho, quando sera que ficarei triste de novo. Eu sou um ser humano ‘blues’, eu que nem sei me ser, que sou opostos.

Eu que estanco estas dores.

Monday 18 February 2008

Post

Dear Ana,

Para te contar de ontem, preciso comecar voltando uma pagina no calendario. Descobrimos um barzinho em Clapham na quarta, bem descolado, um lugar em que nos sentimos mais Ingleses, embora todas as palavras insistissem em sair em Portugues. Bebemos muito do vinho mais barato, rimos, voltamos para casa no frio, distraidos por uma certa bebedeira.

Entao, veio o Valentine’s Day. Acordei com uma ressaca e o dia comecou atrasado. Estava na Universidade entre os meus papeis quando li o teu e-mail. Ao meu redor, computadores e pessoas, ambas maquinas, digitando, escrevendo, racionais, diretas. Fiz pesquisas para tres trabalhos, ouvi a Marisa Monte e o seu CD das cores e fui almocar sozinho. Existe coisa mais solitaria do que o ato de comer?

Comprei uma Coca-cola para rebalancear o equilibrio mental, fui para a aula de Marketing Internacional, onde um professor Irlandes fala todo o tempo sobre marcas como a Guiness e a Ryanair, ambas irlandesas, no seu sotaque irritante e certas vezes incompreensivel. Depois, peguei um onibus para Putney e a vista do rio, ao cruzar a ponte, me fez pela primeira vez no dia suspirar. Eu ando tao bem comigo, pouco me importa as possibilidades de amor lah fora. E os onibus de Londres nao tem janelas como os do Brasil, voce sabe, voce compreende, nao?

Fui para o tal restaurante americano, onde vez ou outra trampo. Vi casais esquisitos, gente magra, gorda, branca, negra, de multiplas nacionalidades, soh nao vi as folhas que jah nascem nas arvores, enquanto o dia morre cada vez mais tarde.

No fim da noite, fui pago por uma traducao que fiz ha pouco de um Website e voltei para casa feliz, exausto, indiferente.

Este silencio de mais de dois meses foi mais um baque. Sei que voce ouviu rumores. Fez-me mais forte, abriu os olhos, fez-me entender que eu preciso parar de brigar com o mundo, de idealizar, de bancar o ermitao. E de que as minhas escolhas precisam de objetivos a longo prazo, sem a confusao destas sentimentalidades, distracaoes.

Enfim, ontem foi um dia assim, como outro dia qualquer. Recluso na rendicao de mim mesmo.

Obrigado pela carta, um beijo frio de Londres,

Breno

Ps. Eh uma pena que nao tenho tanto a dizer. Sao apenas sucessoes de dias de estudo e noites raras com amigos.
Ps2. Escrito no dia 15, mas soh hoje o blogger me deixou publicar!

Saturday 2 February 2008

back on

depois de tanto, o regresso.