Já tinha chegado à conclusão final e dado um ponto à frase escrita de caneta preta sobre o papel reciclado e regurgitado por mim outras e outras vezes sobre o romance que não virá. Ensaiei a vida sem ele, o tal romance, e cheguei à conclusão de que a minha criatividade é o meu maior veneno, de que sou capaz de inventar motivos e fazer crescer o que nem houve tempo, pensar projeções muito distantes para aquilo que nunca chegou a ser. Então, me vem este alguém que eu jamais poderia ter criado, que mostra as suas inseguranças para mim, este alguém real que me faz pensar que já sou grande o suficiente para entender que toda emoção à mais é bobeira, e que embora me faça sentir apertos a cada três ou quatros minutos, inibe os meus atos, e me faz querer fazer tudo diferente, sem saber.
Este alguém que não me beijou na segunda noite, que me sorriu, e colocou as mãos muito próximas às minhas, e esteve o tempo todo falante e com o corpo projetado contra a mesa que nos separava num jantar de quinta-feira à noite, mostrando um interesse que eu talvez equivocadamente tenha classificado como mútuo. E eu não soube criar um clima para o beijo, nem à beira do rio Tamisa, quando as luzes artificiais começavam a roubar a cena e o Sol se ia. E eu sempre fui muito bom em criar motivos para um beijo.
Mas talvez, eu, na minha maior rendição perante as lições que o tempo me traz, não tenha tido a iniciativa necessária para forçar a barra, porque eu quis este alguém por perto, mesmo que tudo seja apenas uma amizade que irá me castigar vez ou outra num suspiro da possibilidade que talvez não se concretizará. Eu já gosto tanto deste alguém, mas ainda posso esquecer, sem me machucar, sem cena de cinema, ou o que quer que seja.
Também porque eu sei da eficiência das companhias telefônicas britânicas e aquela mensagem não voltou, e talvez isto seja tudo. Logo agora que eu banquei o investigador e me concentrei em saber quem este alguém era, sem adicionar fatores que só existem na minha imaginação, como qualquer ser humano normal faz, atribuindo valores ao que é relativo, repetindo cenas na sua própria cabeça. E eu me mostrei tão cru, quase como uma frase curta que diria assim, este sou eu, sem algum esforço em realçar qualidades, o charme, na esperança de que este alguém possa gostar de quem sou.
Everybody loves me, that’s what they say. Amigos sempre repetem a frase ‘eu te adoro’, e se é em inglês, sempre escuto, ‘Breno, we love you’. Por isso, pensei que talvez fosse possível agir como adulto, deixar o romance chegar sem pressa, mas me atormenta o fato de não saber ser um pessoa menos urgente, e eu sei que o tempo deles é diferente e coisa e tal, e porque fazendo tudo diferente eu receio não ser eu, quando eu mais quero. Ser um conflito de mim mesmo.
Este alguém que eu adoro e quero por perto, que me fez bem, que me fez pensar que talvez nada seja assim tão complicado, mas simplesmente possível. Mas que me deixa sem saber com agir. E até sem saber escrever sobre o que eu ainda não entendo.