No dia 23 de Junho, o tempo virou. A partir de agora, a cada pôr-do-Sol, os dias ficam mais curtos, e a noite perde o seu ar de extensão das manhãs. Li esta informação no metrô, numa folha interna de um jornal gratuito abandonado no banco por alguém. De cara me ocorreu a tendência ao negativismo de alguns, um verão inteiro pela frente, os parques, reunião de amigos, churrasco no quintal, e o pensamento lá na frente, antecipando escuridões.
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Friday, 27 June 2008
Tuesday, 24 June 2008
Ataque ao romantismo
Eu vejo o caçador, chapéu de cor caqui, entre os matos que cobrem a sua figura da foto. A sua espingarda repete movimentos verticais, compondo uma curva de um gráfico reverso no ar. Segue os pombos que ousam voar e levar as minhas mensagem para ti. O caçador é certeiro. As pombas despencam do céu uma a uma. As cartas de amor que te escrevi, nunca chegarão. Vão se desfazer com a chuva de amanhã, enquanto as pombas apodrecem no chão.
[In English]
All I can see is the hunter’s light brown hat among the bushes. His rifle repeats vertical movements, composing a curve of a reversed graph in the air. It follows the pigeons that dare to fly and carry the messages I have sent to you. The hunter is accurate, skilful. The pigeons fall off the sky one by one. The letters I have written to you won’t arrive. They will dissolve tomorrow when it rains, whilst the pigeons get rotten on the ground.
[In English]
All I can see is the hunter’s light brown hat among the bushes. His rifle repeats vertical movements, composing a curve of a reversed graph in the air. It follows the pigeons that dare to fly and carry the messages I have sent to you. The hunter is accurate, skilful. The pigeons fall off the sky one by one. The letters I have written to you won’t arrive. They will dissolve tomorrow when it rains, whilst the pigeons get rotten on the ground.
Sunday, 22 June 2008
Nervos
Já tinha chegado à conclusão final e dado um ponto à frase escrita de caneta preta sobre o papel reciclado e regurgitado por mim outras e outras vezes sobre o romance que não virá. Ensaiei a vida sem ele, o tal romance, e cheguei à conclusão de que a minha criatividade é o meu maior veneno, de que sou capaz de inventar motivos e fazer crescer o que nem houve tempo, pensar projeções muito distantes para aquilo que nunca chegou a ser. Então, me vem este alguém que eu jamais poderia ter criado, que mostra as suas inseguranças para mim, este alguém real que me faz pensar que já sou grande o suficiente para entender que toda emoção à mais é bobeira, e que embora me faça sentir apertos a cada três ou quatros minutos, inibe os meus atos, e me faz querer fazer tudo diferente, sem saber.
Este alguém que não me beijou na segunda noite, que me sorriu, e colocou as mãos muito próximas às minhas, e esteve o tempo todo falante e com o corpo projetado contra a mesa que nos separava num jantar de quinta-feira à noite, mostrando um interesse que eu talvez equivocadamente tenha classificado como mútuo. E eu não soube criar um clima para o beijo, nem à beira do rio Tamisa, quando as luzes artificiais começavam a roubar a cena e o Sol se ia. E eu sempre fui muito bom em criar motivos para um beijo.
Mas talvez, eu, na minha maior rendição perante as lições que o tempo me traz, não tenha tido a iniciativa necessária para forçar a barra, porque eu quis este alguém por perto, mesmo que tudo seja apenas uma amizade que irá me castigar vez ou outra num suspiro da possibilidade que talvez não se concretizará. Eu já gosto tanto deste alguém, mas ainda posso esquecer, sem me machucar, sem cena de cinema, ou o que quer que seja.
Também porque eu sei da eficiência das companhias telefônicas britânicas e aquela mensagem não voltou, e talvez isto seja tudo. Logo agora que eu banquei o investigador e me concentrei em saber quem este alguém era, sem adicionar fatores que só existem na minha imaginação, como qualquer ser humano normal faz, atribuindo valores ao que é relativo, repetindo cenas na sua própria cabeça. E eu me mostrei tão cru, quase como uma frase curta que diria assim, este sou eu, sem algum esforço em realçar qualidades, o charme, na esperança de que este alguém possa gostar de quem sou.
Everybody loves me, that’s what they say. Amigos sempre repetem a frase ‘eu te adoro’, e se é em inglês, sempre escuto, ‘Breno, we love you’. Por isso, pensei que talvez fosse possível agir como adulto, deixar o romance chegar sem pressa, mas me atormenta o fato de não saber ser um pessoa menos urgente, e eu sei que o tempo deles é diferente e coisa e tal, e porque fazendo tudo diferente eu receio não ser eu, quando eu mais quero. Ser um conflito de mim mesmo.
Este alguém que eu adoro e quero por perto, que me fez bem, que me fez pensar que talvez nada seja assim tão complicado, mas simplesmente possível. Mas que me deixa sem saber com agir. E até sem saber escrever sobre o que eu ainda não entendo.
Este alguém que não me beijou na segunda noite, que me sorriu, e colocou as mãos muito próximas às minhas, e esteve o tempo todo falante e com o corpo projetado contra a mesa que nos separava num jantar de quinta-feira à noite, mostrando um interesse que eu talvez equivocadamente tenha classificado como mútuo. E eu não soube criar um clima para o beijo, nem à beira do rio Tamisa, quando as luzes artificiais começavam a roubar a cena e o Sol se ia. E eu sempre fui muito bom em criar motivos para um beijo.
Mas talvez, eu, na minha maior rendição perante as lições que o tempo me traz, não tenha tido a iniciativa necessária para forçar a barra, porque eu quis este alguém por perto, mesmo que tudo seja apenas uma amizade que irá me castigar vez ou outra num suspiro da possibilidade que talvez não se concretizará. Eu já gosto tanto deste alguém, mas ainda posso esquecer, sem me machucar, sem cena de cinema, ou o que quer que seja.
Também porque eu sei da eficiência das companhias telefônicas britânicas e aquela mensagem não voltou, e talvez isto seja tudo. Logo agora que eu banquei o investigador e me concentrei em saber quem este alguém era, sem adicionar fatores que só existem na minha imaginação, como qualquer ser humano normal faz, atribuindo valores ao que é relativo, repetindo cenas na sua própria cabeça. E eu me mostrei tão cru, quase como uma frase curta que diria assim, este sou eu, sem algum esforço em realçar qualidades, o charme, na esperança de que este alguém possa gostar de quem sou.
Everybody loves me, that’s what they say. Amigos sempre repetem a frase ‘eu te adoro’, e se é em inglês, sempre escuto, ‘Breno, we love you’. Por isso, pensei que talvez fosse possível agir como adulto, deixar o romance chegar sem pressa, mas me atormenta o fato de não saber ser um pessoa menos urgente, e eu sei que o tempo deles é diferente e coisa e tal, e porque fazendo tudo diferente eu receio não ser eu, quando eu mais quero. Ser um conflito de mim mesmo.
Este alguém que eu adoro e quero por perto, que me fez bem, que me fez pensar que talvez nada seja assim tão complicado, mas simplesmente possível. Mas que me deixa sem saber com agir. E até sem saber escrever sobre o que eu ainda não entendo.
Sunday, 15 June 2008
I’ve got news for you
A caixa de imagens dita as notícias para mim. De repente, após estes quase quatro anos de total reclusão, elas voltam a importar, ficam aprisionadas no meu crânio, ao invés de transpassar de um ouvido ao outro. É um estar estranho dentro de mim. Dou-me conta de que nunca houve este mundo só meu, os fatos lá fora interferem nos meus atos, muda a minha rotina, embora eu as tenha desprezado como se não.
O preço do óleo mais caro, puxa o preço do metrô que não consegue se mover sem a voz eletrônica pedindo desculpa e agradecendo desde já. Quarenta mil pessoas mortas na China me comovem no noticiário, a minha voz interna diz que se deve dar importância. Notícias de guerra. Vejo os acontecimentos e atribuo-me a distância necessária para estar bem. Sim, eu acho tudo muito sujo e vazio. Eu não posso mudar nada.
Encho-me de uma certa arrogância e crueldade, algo que de súbito me assusta, carrega as minhas certezas num baú com a seguite frase rabiscada – não abra. Penso que é preciso centrar-me, vestir-me de uma certa objetividade e seguir. É a primeira vez em muito tempo que seguro o destino pelos cabelos e digo ’é por esta direção que quero ir’.
O preço do óleo mais caro, puxa o preço do metrô que não consegue se mover sem a voz eletrônica pedindo desculpa e agradecendo desde já. Quarenta mil pessoas mortas na China me comovem no noticiário, a minha voz interna diz que se deve dar importância. Notícias de guerra. Vejo os acontecimentos e atribuo-me a distância necessária para estar bem. Sim, eu acho tudo muito sujo e vazio. Eu não posso mudar nada.
Encho-me de uma certa arrogância e crueldade, algo que de súbito me assusta, carrega as minhas certezas num baú com a seguite frase rabiscada – não abra. Penso que é preciso centrar-me, vestir-me de uma certa objetividade e seguir. É a primeira vez em muito tempo que seguro o destino pelos cabelos e digo ’é por esta direção que quero ir’.
Sunday, 8 June 2008
Um amor do passado
Jay saiu às nove horas, levando-se para longe, onde ficam as memórias de quatro anos atrás. Eu quis evitar a sua despedida, num pensamento ébrio e fugaz. Pedir para ficar seria um engano. Talvez aquele número de telefone nem seja correto. Eu decidir não ligar. E já apaguei. Apagar é um ato sempre impensado. Se o telefone tocar um dia no futuro, talvez numa manhã de quarta-feira, atenderei surpreso, e perguntarei: quem fala? Decidi que o telefone não vai tocar, sou eu quem escrevo, eu crio o que bem entender. Mas a vida insiste em driblar as minhas linhas, seus atacantes hábeis e sempre mirando a frente, me escapam da rede dos meus domínios. Se Jay ligar, farei uma voz engraçada e direi que é engano. Jay não ligará. Jay já apagou também.
Thursday, 5 June 2008
fragmentos
do que nunca será um livro
Bato a porta. A porta se fecha por trás de mim. Não há outra direção senão os desvendamentos da frente. Os caminhos são os mesmos até quando as ruas são outras. Pouco importa o roteiro, estar dentro de mim é quase sempre um caminhar sem rumo; aonde eu vou, eu me levo comigo.
A cidade se repete às vezes, é uma cidade que nem sempre sabe ser, uma cidade em crise. Eu moro aqui. Moro aqui há tempo demais para saber que as ruas idênticas são repletas de outros significados. Eu queria saber escrever sobre a cidade, mas a cidade sempre chega ao fim antes de mim. A cidade sempre vence.
Bato a porta. A porta se fecha por trás de mim. Não há outra direção senão os desvendamentos da frente. Os caminhos são os mesmos até quando as ruas são outras. Pouco importa o roteiro, estar dentro de mim é quase sempre um caminhar sem rumo; aonde eu vou, eu me levo comigo.
A cidade se repete às vezes, é uma cidade que nem sempre sabe ser, uma cidade em crise. Eu moro aqui. Moro aqui há tempo demais para saber que as ruas idênticas são repletas de outros significados. Eu queria saber escrever sobre a cidade, mas a cidade sempre chega ao fim antes de mim. A cidade sempre vence.
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