Saturday 31 May 2008

Sobre deixar o emprego que tanto adoro

É preciso crescer, diz a mãe natureza, desde que nos entendemos por gente e ela arranca os nossos dentes, nos enche de pêlos e desejos, e só pra sacanear, nos transforma em alguém cada vez mais parecido com os nossos pais. Ah, a fila-da-mãe.

Pois é, neste vão de acontecimentos, eu fui a uma entrevista numa empresa de tecnologia digital-gráfica. Por algum motivo inexplicável, eles acharam que eu preenchia as exigências e me deram este emprego com horário conveninete, salário maior e pouco trabalho. Os amigos felizes, me incentivaram, disseram que é o começo desta nova fase, pós-mestrado, e coisa e tal. Mandei todos tomar no cu, de uma forma ou outra.

Sair da livraria é abandonar um pouco este meu lado pseudo-escritor. Fez-me ver que eu vivo uma ilusão de que há tempo, de que a minha alternatividade combina com este mundo quadrado e movido a dinheiro. Eu sou um capitalista, um fila-da-puta de um capitalista. Fui quase todos os dias enfezado, de pouco papo, como se eles tivessem me colocado numa armadilha da qual não pude recusar. Quem diria, um emprego que eu tanto quis.

É um lance engraçado estar dentro de mim, eu sou a pessoas mais confusa do planeta. Eu quero sempre ser dois, fazer 402 coisas ao mesmo tempo e coisa e tal. Aí me falta tempo, dedicação, espaço. Estou tão triste por ter que sair da livraria, deixar aquele bate-papo gostoso com todos aqueles quase artistas, ou artistas ‘to be’. Aquela atmosfera de gente talentosa e desperdiçada, auto-sabotagem.

Fico eu agora, bancando o adulto naquela empresa, em que as pessoas são tão legais comigo, reclamando, de mau-humor, fazendo tudo no automático. Ah, eu preciso tomar vergonha na cara, e crescer. Encarar tudo com seriedade e objetividade. Eu preciso ser menos Eu, só para variar.

1 comment:

Ana Mangeon said...

Ah, Breno. Você não está se roubando nada, está só acrescentando. Uma coisa não devia reprimir a outra. As office hours vão te dar um bocado de tempo para as coisas 100% suas.

Mas isso não quer dizer que eu não continue trançando uma corda pra te puxar de volta! heheheh