Monday 5 May 2008

recado

Para as pessoas que se preocupam.

Não se preocupe por mim. Escrevo quando a tristeza transborda e isso nada mais é do que um correr de dedos. A vida tem me feito amargo demais. Triste demais. Tristeza é algo que demora tanto de aparecer, mas quando vem, agora, é de uma profundidade tão absurda. Nada me sufoca tanto quanto a certeza do não.

Os dias se perdem em folhas de calendários arrancadas de vez. Nada me parece fazer sentido. Já racionalizei tudo, e me sinto tão só, tão abandonado. Sim, são as minhas escolhas. Eu queria chorar um rio vermelho, se isso fosse mudar algo. Eu já nem sei mais escrever. Ando tão medíocre. Isso me dói.

Os textos estacanram numa idade tão adolescente. A vida segue e não. Os passos são todos na mesma direção. Eu queria ser comum. Eu me sinto ordinário e imperfeito. Menos do que o sujo do sapato. Diferente. Eu queria não sentir nada disso, mas é tarde, e não há mais volta. O rapaz que dormia no frio morreu de tuberculose. A rua nunca mais ouviu o seu grito: Big issue.

Eu quis um outro verbo menos egoísta e mesquinho do que querer no passado. E ainda assim, ele é tão meu. Eu ando lendo e traduzindo a Sylvia Plath, pensando que não tenho talento algum, maturidade. Está tudo cinza. Eu quero ser menos emotivo, menos eu. Eu quero 452 passos para frente, sem olhar o caminho. Um empurrão do destino, sorte, convocacção, estas coisas que só não acontecem comigo.

April, 18 – Sylvia Plath.

O sujo de todos os meus ontens
Apodrecem no escuro do meu cranio

E se o meu estômago se contraísse
Por um motivo inexplicável
Como gravidez ou constipação

Eu não me lembraria de ti

Ou se por causa de um sono
Infrequente como uma lua de queijo esverdeado
Ou se por causa de comida
Nutrindo como folhas roxas
Ou se por causa deles

Dentro de umas poucas mortais jardas de grama
Ou em pequenos espaços de céu e copas

Um futuro se perdeu
Tão facil e irreparavelmente
Quanto uma bola de tênis ao pôr-do-sol.

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Eu estou bem. Só não me resta mais aquilo que um dia eu chamei de futuro. Desacreditar é um processo foda.