Sunday, 26 October 2008

Incompreensões

A cidade e as suas linhas riscadas no céu. Outra vez, eu vejo Stella caminhar oferecendo ao vento o balançar do seu vestido, com aquele mesmo ar desencontrado. O cortar das ruas a faz querer guardar a cidade dentro de si. Como um refúgio para si mesma. Stella já partiu outras vezes, já chegou outras vezes, já aportou. Outras vezes.

Ela desvenda Amsterdam com olhos de garota. A estação de trem principal e suas direções todas. E já não sabe definir se o ar aqui é mais leve, ou mais pesado, de que substância o ar é constituído, agora. As vitrines e suas palavras incompreensíveis. Stella gosta de palavras, quanto maiores melhor. As vitrines se sucedem até o Red Light District, onde as vitrines refletem os seus olhos, em cada puta escancarada sorrindo um sorriso que Stella aprendeu faz tempo. Stella decide que nunca será uma puta em Amsterdam, porque Stella não quer viver de espera, e as vitrines são turvas visões de putas esperando caladas, sofrendo caladas. Elas e seus sorrisos.

Stella gosta de andar pela cidade. A cidade tem um ar que Stella agora resolveu chamar de. Mas não é isso ainda. Stella gosta particularmente de andar de metrô em Amsterdam, porque os trens atravessam o resíduo espacial e revelam os canais e não saem do chão. Não há de se subir escadas para se pegar o metrô de Amsterdam. Stella tem chão.

No desenrolar das esquinas, Stella quer o emprego da vitrine do bar. Mas Stella não quer mudar de vida, não quer ter que recomeçar. Stella não aguenta mais. O cansaço do mundo grudou todo no solado de Stella, e ela não sabe mais. Qual a substância do ar?

1 comment:

Ana Mangeon said...

Superb, amore. Superb...