Thursday 30 October 2008

Que se

Doem os meus pés. As minhas mãos. O meu nariz. De frio que entra pelo que não acorberto, de tão teimoso. Um frio cortante e surdo. Grito tão alto quanto posso, arranco os pulmões de mim para consumar a frase no ar: é Outubro. Não deveria estar tão frio, nem nevar. A última vez que nevou em Outubro foi 70 anos atrás. Então é assim, volto do Brasil, saio do calor de 36 graus e vem essa porcaria de frio me agasalhar, cobrindo o céu de um cinza mal-vindo.

Que se danem.

Os dedos sentem caimbras, ou será o cérebro? Eu, aqui, me sentindo o rapaz de 30 anos mais infantil do mundo, um ser que ainda tem crises de lugar. Viajar para mim nunca será sinônimo de. Eu cobiço. Eu quero mudar tudo.

Que se danem, eles.

E vejo os livros me encarando com as suas aparências perfeitas na minha estante. Para que diabos eu tinha de saber escolher? Levanto, jogo todos no chão, como uma mulherzinha, e depois choro, como uma mulherzinha.

Que se danem, elas.

Levanto para tomar um chocolate quente, e não há açúcar. Há coisa mais triste? Abro o armário do flatmate e ele aparece. Caralho, por que droga você não ficou no seu quarto?

I was just looking for sugar, I ran out, digo todo sem graça.
So did I, ele diz.

Há coisa mais triste que uma casa sem açúcar? Vou para o meu quarto, com o meu chocolate amrgo, pensando por que às vezes é tão difícil ser, e que eu queria ser invisível como você, desnecessário como você, que vem aqui com os seus passinhos pacatos e sorrateiros ler o diário dos outros, enquanto eu durmo do outro lado mundo.

Que se danem todos vocês.