Friday, 1 August 2008

Rotina

Todos eles choram sobre mim. As suas cartas chegam, inúmeras, lotando o quadrado que está sempre à minha frente. Lamentações do homem moderno, gente sem rosto, urgências que não me afligem, nem comovem. As suas lamentações inundam meus dias. Meus dedos tentam ser mais rápidos que os deles. Eles sempre me ultrapassam. Sempre espalhando os seus pedidos nos meus correios. Chovem cartas ao invés de gotas, no escritório cinza.

Vez ou outra, me occorre lembrar que para toda pergunta deles, há uma resposta em algum canto. O homem moderno me incomoda porque carrega consigo a preguiça dos impacientes, o vício do serviço ao usuário, um desperdício. Há uma sessão chamada FAQ – Frequent Asked Questions, e lá encontram-se todas as respostas do mundo. É como um dicionário da estupidez alheia. Eu leio as cartas, as suas palavras se repetindo, uma melodia triste e apoteótica para os meus ouvidos cansados. Please, it’s urgent.

Vida de serviço ao usuário, é só parte das minhas funções, mas, ah, como me tira a paciência. O ser humano demandista, o ser humano, o ser.

Vez ou outra.