De onde vem essa calma que eu desconheço? Por que será que de repente eu me olhei no espelho e me vi, tão real, os olhos quase tímidos diante de mim mesmo? Os dias frios ou quentes, neste verão sem memória, de Sol banhado pelo vento do Oeste que sempre me faz pensar nas pontes quando anoitece.
Um caminhar pisando em cada pedra esquecida nas ruas, o ar quase convidativo de todas as portas que se abrem, o meu sorriso. Memórias que se corrigem, e eu vi você, e nada mudou, e o meu olhar apontado como uma lança que busca projetos de longo-prazo, uma serenata de fatos tão entrelaçados que nem sequer ouso questionar. Existe mesmo este papo de destino?
Hoje amanheceu chovendo, eu quis te contar. E quis dizer que recusei todos os convites para sair, eu quis estar só. Agora eu me lembro como éramos bons amigos, eu e a minha solidão, o exercício da minha própria personalidade. Agora, que o desespero perdeu o seu lugar. Leve é um adjetivo que eu sempre cultivei.
Outros tempos. Volto a dar a mão a minha solidão, bem-vinda. Acordo, tomo um banho na sua casa, seja você quem for, e me vou. Para os braços da minha amada, a minha solidão. A solidão de quem espera pelo pôr-do-Sol atrás do seu próprio eu, o meu de-dentro. Eu comigo mesmo, porque esse papo de amor é mesmo coisa de cinema, não?
‘Vou deixar a rua me levar, ver a Cidade se acender’.