Ensaio uma certa distancia de mim mesmo. Nos todos temos motivos para atos impensados. Como ao ver um amor do passado, nao resistir e dizer: ‘eh uma pena, eu te amei tanto’. Do alto de uma sinceridade tao devastante, de nao procurar respostas no rosto do outro, de simplesmente partir e se perder por ai. Nao por causa de ninguem, mas por si.
De certa froma, entre os vagoes daquele trem e o balancar do onibus, apos racionalizar os meus sentimentos e me sentir confuso e cansado, fica a impressao de que o meu nao amar ninguem eh uma defesa fodida. Concha fechada, sem barulho do mar. Lendo as cartas do Caio Fernando Abreu no domingo, me peguei com umas frases grudadas a memoria, e quis chorar. ‘Por tudo que se perdeu’.
‘Eu nao quero ter vegonha de nada que sou capaz de sentir’. – nas cartas.
Eu tava tao bonito, naquele limite de quem eu sou, no limite dos tracos que envelhecem aos poucos, eu tava de bem comigo, vestido no meu estilo serio-alternativo, eu tava tao bem, que tive de beijar outras bocas e dizer nao, nao me importo.
Fiquei esperando por uma certa tristeza, que nao veio, soh em alguns momentos raros. ‘O grande amor da minha vida, nao me doi mais’. Ai, que estranho. O se encontrar e descontrar, tao urbano, como diria o Caio. E eu mudei tanto. Sou tao mais interessante e como aprendi a domar a minha solidao, preenchendo-a com amizades.
Acordei, a agencia de propaganda Londrina me ligou para uma traducao, de um roteiro e um anuncio da BASF, num domingo! Sao tao raras estas ligacoes agora, os projetos em Portugues do Brasil sao tao poucos, que nao pude dizer nao.
Vim a universidade, a vida segue o seu ritmo normal, tao de bem comigo, tao estranho, quando sera que ficarei triste de novo. Eu sou um ser humano ‘blues’, eu que nem sei me ser, que sou opostos.
Eu que estanco estas dores.