Friday, 3 July 2009

Dear Miss A,

Sinto tanto por não ter ido ao seu encontro. Queria poder dizer-lhe que o que me impediu foram os cinco anos passados aqui, contados em uma mão só, como se o fato de sentir que a minha vida anda por cá, não poderia ser assim abandonada em uma semana de malas prontas. Mas é mentira.

Fez-me pensar que nada me prende aqui. Senti-me tão perdido. Tão abandonado de mim.

A cidade está em mim agora de uma forma inexplicável. Horas, como se todas as ruas estivessem decoradas com bandeiras de São João numa infância infinita, e outras, como se numa primavera de flores muchas e jardins ao léu.

Aninha, a verdade é que acabei perdendo o vôo por causa da entrevista. Um fato banal decidiu o destino. Fiquei com sono quando o diretor de criação não apareceu e cansei de olhar para o Skype. Imagino que a reunião tenha se extendido e as horas por cá, percebendo a malevolência do vento, passaram a se arrastar e puxar as minhas palpebras para baixo.

Dito isto, a verdade é: não fui ao encontro porque fiquei com sono. Precisamos de doses de realismo para lembrar que somos apenas humanos, não?

Projetar este atravessar de oceano, fez-me lembrar quem fui, um dia. Senti saudades de mim. Mas sei, que embora já tenha trocado de óculos algumas vezes, e continue com os mesmos dois graus de miopia, sei que aquele rapaz não existe mais. Eu me casaria com ele, e diria umas coisas duras a ele, e faria ele entender que eu não queria estar aqui hoje.

A cidade não me parece possível, você sabe. A cidade só seria possível se eu não fosse eu e você não fosse você. E Sampa, é possível?

Já tentei algumas vezes abrir esta caixa preta chamada futuro e só machuquei os dedos. Agora, decidi ficar por cá, um pouco mais pelo menos, e desistir da Cidade. Talvez, se não houver mais expectativas, se eu esquecer dos meus bolsos e chapéus, e o que cabe neles, talvez eu me surpreenda.

Você deve imaginar também que sei curtir a Cidade, apesar de toda a queixa. Já programei os ensaios ao ar livre que quero ver, as exposições, os dias no parque no verão Europeu. Já planejei tudo isto, e embora tenha esquecido de incluir neles a nostalgia e o silêncio, embora tudo isto, acho que não vai ser assim tão mal.

Não sei dizer o que há de errado agora, nunca soube. Eu acho que carregava comigo esta mesma sensação quando aí, deste lado. Talvez tudo seja apenas Eu. Ou o mundo chovendo desilusões sobre mim.

Um beijo, fique bem.

Mr B.