Thursday 9 July 2009

Dear Miss A,

Desculpa pela demora em responder. A Cidade corre tanto.

Ouvi dizer que há uma necessidade absoluta de palavras rasbiscadas por outras mãos para que possamos enfim compreender as nossas. Dizem tanta coisa e, vez ou outra, quase acredito.

Embora escorressem verdades pelos meus dedos no teclado, embora houvesse naquele discurso um resquício de necessidade de auto-convencimento, a outra verdade é que eu quis me desculpar. Porque perdi o ímpeto de voar, de mudar tudo, de desaparecer, porque não sou mais o tal ‘comprador de cigarros’. Preciso de chão. E o chão não pode ser mais aquele que invento. Preciso sentir que sou um pouco dono do meu destino agora, embora pense que são as pessoas donas do seu destino as menos livres.

Por favor, não sinta nada que não caiba estampada numa camisa CMYK, qualquer das 4 cores, não há porquê. Acredito que a telepatia exista nos nossos papos, nas nossas linhas. Fiquei grato pelo convite, pelo despertar de possibilidades quando tudo está tão certo e comum. Por isso, quis pedir desculpas, porque precisava me desculpar a mim mesmo também.

Lendo as suas palavras, acho que você despertou algo que já não lembrava. Eu não quero me adaptar a lugar algum. Nos momentos que mais me sou aqui, sou aquele que não está nem aí. Eu sou aquele rapaz que observava a atendimento da agência chegar com as campanhas reprovadas porque a idéia era muito anti-convencional e a cidade pequena e triste. É claro que morando fora, ser o ‘outsider’ é mais fácil e mais difícil, porque os caminhos são subitamente reduzidos e a gente não sabe nadar sem parar e respirar.

Eu acho que foi isso que busquei, uma volta a mim mesmo. Do lado de lá do oceano, tudo me parece um pouco mais possível, as cidades me parecem possíveis. Do lado de cá, perco um emprego porque me dizem que tenho perfil de escritor. Há maneira mais nobre de ficar ‘desempregado’? (Embora isto tenha gerado uns freelas).

É claro que quis estar com você também, dividindo estórias que eu poderia imprimir e largar na sua mesa, com um bilhetinho escrito ‘Que tal?’ e passar uma noite ansioso por uma opinião. Obviamente que sim.

NY e seis meses mais são um enigma. Tão grande quanto o porque não decoro a casa, não compro um gato ou porque toda vez que compro um livro carrego a sensação de que não terei como levá-los aonde quer que seja. Os livros já são muitos e a estante pequena.

Chegou uma notícia estes dias de que uma outra pessoa atravessará um outro oceano daqui a alguns dias. Cidadãos do mundo, querida. Me dá arrepios só de pensar que isto também se traduz em uma outra distância. Será que um dia todos nós nos reencontramos?

Um beijo,

Mr B.