Thursday, 27 November 2008

Revolutionary Road

A trapaça do tempo se estampa inegável em cada um de nós. Não em prematuros sinais faciais, mas num nível de consciência que nos diz que o momento é agora, e que ficou tarde para algumas coisas. O peso dos anos não é algo sufocante, é um estado de auto-conhecimento, de domínio. Não há mais tempo para ser infantil ou irresponsável. Não há. Ou é assim que me sinto.

Lá na empresa, entre os e-mails que chegam do Japão ou da Alemanha, vejo-me subitamente comprometido com a eficiência de processos, discuto detalhes com o tradutor italiano, opino na arte do site com a designer, não mais com aqueles ares de artista, daquele garoto que um dia fui. Tudo necessita o meu Eu lá, a minha atenção mais convicta.

As traduções que faço agora precisam da minha revisão mais técnica e do meu apego maior à língua. Sou eu, marujo solto ao mar de papéis, tentando solucionar na minha cabeça, eu comigo, que destino seguir. Porque se você pensa desta forma quadrada sobre a vida e suas etapas lógicas, eu não. E não por vaidade ou charme, é porque esta rota já traçada por outros não me faria feliz.

Gastei cada centavo que tinha me perdendo neste mundo vão. Não há nada, nada, de que me arrependa. Eu vivi cada momento. E, no entanto, quarta tirei um extrato no banco e tinha 40 centavos na conta. Sim, há uma reserva que não quero mexer. Mas não é sobre isso ainda. O mundo é uma armadilha. Entra na roda eu e você. São as contas, o dia-a-dia, a rotina, e a nossa linha é escrita por quem mesmo?

Não quero de forma alguma uma ditadura capitalista me impondo regras, condutas, e quando penso em voltar ao Brasil, me vem claramente a noção de que eu fiz tudo o que queria, nos meus vinte e poucos anos. Tudo. Mas o tal ‘settle down’, a sua idéia de se acolher, de se aquietar não me agrada. Tento bolar estratégias para conservar a minha liberdade, estar à parte disso que vocês descuidadamente chamam de lar, trabalho etc.

Por isso, quando vi o trailer do Revolutionary Road no Youtube, abateu-me pensar que em alguns termos eu ainda sou aquele garoto revestido de mim mesmo. Conservo os ímpetos, mas ainda não encontrei a saída. Já assisti o trailer umas 500 vezes e mal lembro do livro, pois o li há tanto tempo. Lembro que a primeira parte é muito triste e foda. Lembro que o estilo oscilou no meu gosto e de que chorei por que aquilo me lembrou de ‘tulipas para a garota das rosas’, que é o meu conto favorito do Beijando Paredes.

O questionamento me pertuba mais porque sei que há nele traços da minha solidão. E porque não há ninguém para me dizer ‘I can make you happy here’.

Ps. A Nina Simone cantando é covardia.