Thursday, 13 November 2008

Numa noite fria de Novembro

Para ler ao som de Sinnerman – Nina Simone

Andando por Shepherds Bush, caía a neve, mas o meu coração me diz que ainda é Novembro. Talvez sejam as retinas, crostas de desamparo que já não se cabem no céu. O céu de Londres, cinza ou azul. Duro, sempre. Mas o problema não é a cidade, o problema sou eu (o problema é a Cidade, são todas as cidades do mundo).

Ao telefone confesso aos ouvidos mudos o meu maior desejo nas manhãs de sábado. A minha cama. Por dentro, tudo está lúgubre e soterrado. Hoje, vi distante uma casa em que costumava ir e recordei de você. De longe, as retinas cansadas não resistiram ao encanto da arquitetura gótica que identifica aquele lugar onde outras vezes eu te disse não. O problema não é as palavras, mas o que elas significam.

Ver a casa de uma certa distância, fora da nossa rotina apressada e crua, me fez reparar. Como quando, perdido nas ruas de Madrid, correndo em círculos para te encontrar, antes que você dessistisse e se fosse, tendo a impressão contínua de já ter passado por aquele lugar, todos os lugares, perguntava a todos ‘Donde está la calle, por favor?’; como quando te vi de novo. O céu morria tenso sem luar e eu lembrei instantaneamente de como o teu jeito de olhar, parar, caminhar, como tudo sobre você era admirável, a beleza das suas linhas harmônicas e descontruídas, o seu sorriso. Algo que já não prestava atenção enquanto corríamos pelas ruas de Londres, enlouquecendo nas nossas pirações de delírios absurdos e liberdade de pensamentos vanguardistas que não se aplicam mais a ninguém.

O coração sufocado pelo calor do verão da Espanha, aguardei você me fitar e aquelas palavras foram como uma arma apontada a mim, e atiraram palavras em outra língua, ‘es un maricon, te odio’. E desde então livrei-me de qualquer expectativa, de qualquer dor. Ando por aí, sem um sentimento qualquer. Abandono os amores de ontem sem guardar uma recordação que dure. E os ouvidos cansados ouvindo repetidas cartilhas já não entedem mais as minhas retinas, os meus olhos desvairados, que não conseguem inventar quando necessário, e não conseguem mais viver o momento quando preciso.