Friday, 28 November 2008
Thursday, 27 November 2008
Revolutionary Road
A trapaça do tempo se estampa inegável em cada um de nós. Não em prematuros sinais faciais, mas num nível de consciência que nos diz que o momento é agora, e que ficou tarde para algumas coisas. O peso dos anos não é algo sufocante, é um estado de auto-conhecimento, de domínio. Não há mais tempo para ser infantil ou irresponsável. Não há. Ou é assim que me sinto.
Lá na empresa, entre os e-mails que chegam do Japão ou da Alemanha, vejo-me subitamente comprometido com a eficiência de processos, discuto detalhes com o tradutor italiano, opino na arte do site com a designer, não mais com aqueles ares de artista, daquele garoto que um dia fui. Tudo necessita o meu Eu lá, a minha atenção mais convicta.
As traduções que faço agora precisam da minha revisão mais técnica e do meu apego maior à língua. Sou eu, marujo solto ao mar de papéis, tentando solucionar na minha cabeça, eu comigo, que destino seguir. Porque se você pensa desta forma quadrada sobre a vida e suas etapas lógicas, eu não. E não por vaidade ou charme, é porque esta rota já traçada por outros não me faria feliz.
Gastei cada centavo que tinha me perdendo neste mundo vão. Não há nada, nada, de que me arrependa. Eu vivi cada momento. E, no entanto, quarta tirei um extrato no banco e tinha 40 centavos na conta. Sim, há uma reserva que não quero mexer. Mas não é sobre isso ainda. O mundo é uma armadilha. Entra na roda eu e você. São as contas, o dia-a-dia, a rotina, e a nossa linha é escrita por quem mesmo?
Não quero de forma alguma uma ditadura capitalista me impondo regras, condutas, e quando penso em voltar ao Brasil, me vem claramente a noção de que eu fiz tudo o que queria, nos meus vinte e poucos anos. Tudo. Mas o tal ‘settle down’, a sua idéia de se acolher, de se aquietar não me agrada. Tento bolar estratégias para conservar a minha liberdade, estar à parte disso que vocês descuidadamente chamam de lar, trabalho etc.
Por isso, quando vi o trailer do Revolutionary Road no Youtube, abateu-me pensar que em alguns termos eu ainda sou aquele garoto revestido de mim mesmo. Conservo os ímpetos, mas ainda não encontrei a saída. Já assisti o trailer umas 500 vezes e mal lembro do livro, pois o li há tanto tempo. Lembro que a primeira parte é muito triste e foda. Lembro que o estilo oscilou no meu gosto e de que chorei por que aquilo me lembrou de ‘tulipas para a garota das rosas’, que é o meu conto favorito do Beijando Paredes.
O questionamento me pertuba mais porque sei que há nele traços da minha solidão. E porque não há ninguém para me dizer ‘I can make you happy here’.
Ps. A Nina Simone cantando é covardia.
Saturday, 15 November 2008
Little boy
What paths have you stepped in?
Did you get lost or sucked in?
Did those guys make you feel down?
Did they turn your yellow into brown?
Little, little boy
Why is your sky so dark?
Why do your eyes lack spark?
Is your world that unfair?
Why can I smell despair in the air?
Little, little boy
Do not cry
Do no cry today
For the dawn is soon gone away.
Thursday, 13 November 2008
Numa noite fria de Novembro
Andando por Shepherds Bush, caía a neve, mas o meu coração me diz que ainda é Novembro. Talvez sejam as retinas, crostas de desamparo que já não se cabem no céu. O céu de Londres, cinza ou azul. Duro, sempre. Mas o problema não é a cidade, o problema sou eu (o problema é a Cidade, são todas as cidades do mundo).
Ao telefone confesso aos ouvidos mudos o meu maior desejo nas manhãs de sábado. A minha cama. Por dentro, tudo está lúgubre e soterrado. Hoje, vi distante uma casa em que costumava ir e recordei de você. De longe, as retinas cansadas não resistiram ao encanto da arquitetura gótica que identifica aquele lugar onde outras vezes eu te disse não. O problema não é as palavras, mas o que elas significam.
Ver a casa de uma certa distância, fora da nossa rotina apressada e crua, me fez reparar. Como quando, perdido nas ruas de Madrid, correndo em círculos para te encontrar, antes que você dessistisse e se fosse, tendo a impressão contínua de já ter passado por aquele lugar, todos os lugares, perguntava a todos ‘Donde está la calle, por favor?’; como quando te vi de novo. O céu morria tenso sem luar e eu lembrei instantaneamente de como o teu jeito de olhar, parar, caminhar, como tudo sobre você era admirável, a beleza das suas linhas harmônicas e descontruídas, o seu sorriso. Algo que já não prestava atenção enquanto corríamos pelas ruas de Londres, enlouquecendo nas nossas pirações de delírios absurdos e liberdade de pensamentos vanguardistas que não se aplicam mais a ninguém.
O coração sufocado pelo calor do verão da Espanha, aguardei você me fitar e aquelas palavras foram como uma arma apontada a mim, e atiraram palavras em outra língua, ‘es un maricon, te odio’. E desde então livrei-me de qualquer expectativa, de qualquer dor. Ando por aí, sem um sentimento qualquer. Abandono os amores de ontem sem guardar uma recordação que dure. E os ouvidos cansados ouvindo repetidas cartilhas já não entedem mais as minhas retinas, os meus olhos desvairados, que não conseguem inventar quando necessário, e não conseguem mais viver o momento quando preciso.
Thursday, 6 November 2008
Lições ao andar de bicicleta
Wednesday, 5 November 2008
Fazendo as pazes com o frio
Estes dias lá no trabalho, além das flores, as contra-mãos. Ganhei uma bicicleta e agora ando com tons de encanto pelas ruas de Londres. Look left, look right. E eu que pensei que seria frio demais para andar de bicicleta. Sinto-me uma criança embalanda pelo pedalar e encaro a Cidade com um sorriso maroto. Pedalo, pedalo, pedalo, uma sensação de liberdade incrível ao redor de Notting Hill, um daqueles momentos em que me pego pensando se a vida não poderia mesmo ser assim tão fácil, sem esta estória de contas, responsabilidades, metas. Se a gente não quisesse conquistar o mundo, um mundo sujo e perdido.