Friday 11 April 2008

Amsterdam nunca existiu


Ou

A cidade nunca foi minha.

Voltar quatro anos ao passado me fez perder uns sentimentos cultivados sem razao, excessos de vivencias do mundo, apego ao que nao me pertence. Entre as ruas, os canais, as pessoas que eu nao sabia classificar, recuperei aquele ar distraido, desatento aos porques alheios. Em resumo, essa manina idiota de estereotipar a tudo, e como ver o mundo de cima do muro me agredia.

Fazia frio, e eu me vestia quase leve, usando esta resistencia londrina que se apegou a mim. Fui ao Museu do Van Gogh, ao Rijksmuseum, a casa da Anne Frank, e vi absurdos da guerra, obras de arte, orgulhos de uma nacao. Era quase um intervalo de mim mesmo, entre estas horas corridas na Cidade. E vi tambem o Red Light District, com as suas putas belissimas expostas na vitrine, me sorrindo. Ouvi algo engracadissimo nesta caminhada:

- Baby, someone who smells as good as you can’t possibly be out of money.

Mas ela nao sabia que o perfume foi presente de um amigo. E mais: que eu nao teria um puto ao voltar a Londres se gastasse um centavo a mais. E eu nao a desejava.

Ficar na casa de um casal amigo fez-me um bem incrivel. Faltava-me este ar de casa de familia, discussoes de gastos e planejamentos, cotidianos, rotinas. Esse meu-estar solto e perdido pelo mundo cansa, faz-me sem estrutura. Eu quis ter casa, em Amsterdam, um lugar para compartilhar com alguem. Pensei em amor, relacionamentos, revi todos os meus impulsos, entre as viagens no cafe, comendo brownie recheado com ... e passando mal horrores, tendo visoes de que as coisas haviam perdido a sua materialidade, a sua firmeza, enlouquecendo entre as minhas piracoes, pensando paranoias e dores.

Leve foi tudo que seguiu-se apos uns drinks, na noite. E eu pensei que poderia nunca mais gozar na vida! ;D Porque eu jah experimentei tanto e nao achei e estava tao cansado. Mas os erros eram mais meus, eu nao posso brigar com o mundo, nao mais.

Enfim, uma semana de total liberdade e pausa. Sinto-me tao mais leve agora.