Saturday 12 September 2009
Thursday 9 July 2009
Dear Miss A,
Ouvi dizer que há uma necessidade absoluta de palavras rasbiscadas por outras mãos para que possamos enfim compreender as nossas. Dizem tanta coisa e, vez ou outra, quase acredito.
Embora escorressem verdades pelos meus dedos no teclado, embora houvesse naquele discurso um resquício de necessidade de auto-convencimento, a outra verdade é que eu quis me desculpar. Porque perdi o ímpeto de voar, de mudar tudo, de desaparecer, porque não sou mais o tal ‘comprador de cigarros’. Preciso de chão. E o chão não pode ser mais aquele que invento. Preciso sentir que sou um pouco dono do meu destino agora, embora pense que são as pessoas donas do seu destino as menos livres.
Por favor, não sinta nada que não caiba estampada numa camisa CMYK, qualquer das 4 cores, não há porquê. Acredito que a telepatia exista nos nossos papos, nas nossas linhas. Fiquei grato pelo convite, pelo despertar de possibilidades quando tudo está tão certo e comum. Por isso, quis pedir desculpas, porque precisava me desculpar a mim mesmo também.
Lendo as suas palavras, acho que você despertou algo que já não lembrava. Eu não quero me adaptar a lugar algum. Nos momentos que mais me sou aqui, sou aquele que não está nem aí. Eu sou aquele rapaz que observava a atendimento da agência chegar com as campanhas reprovadas porque a idéia era muito anti-convencional e a cidade pequena e triste. É claro que morando fora, ser o ‘outsider’ é mais fácil e mais difícil, porque os caminhos são subitamente reduzidos e a gente não sabe nadar sem parar e respirar.
Eu acho que foi isso que busquei, uma volta a mim mesmo. Do lado de lá do oceano, tudo me parece um pouco mais possível, as cidades me parecem possíveis. Do lado de cá, perco um emprego porque me dizem que tenho perfil de escritor. Há maneira mais nobre de ficar ‘desempregado’? (Embora isto tenha gerado uns freelas).
É claro que quis estar com você também, dividindo estórias que eu poderia imprimir e largar na sua mesa, com um bilhetinho escrito ‘Que tal?’ e passar uma noite ansioso por uma opinião. Obviamente que sim.
NY e seis meses mais são um enigma. Tão grande quanto o porque não decoro a casa, não compro um gato ou porque toda vez que compro um livro carrego a sensação de que não terei como levá-los aonde quer que seja. Os livros já são muitos e a estante pequena.
Chegou uma notícia estes dias de que uma outra pessoa atravessará um outro oceano daqui a alguns dias. Cidadãos do mundo, querida. Me dá arrepios só de pensar que isto também se traduz em uma outra distância. Será que um dia todos nós nos reencontramos?
Um beijo,
Mr B.
Friday 3 July 2009
Dear Miss A,
Sinto tanto por não ter ido ao seu encontro. Queria poder dizer-lhe que o que me impediu foram os cinco anos passados aqui, contados em uma mão só, como se o fato de sentir que a minha vida anda por cá, não poderia ser assim abandonada em uma semana de malas prontas. Mas é mentira.
Fez-me pensar que nada me prende aqui. Senti-me tão perdido. Tão abandonado de mim.
A cidade está em mim agora de uma forma inexplicável. Horas, como se todas as ruas estivessem decoradas com bandeiras de São João numa infância infinita, e outras, como se numa primavera de flores muchas e jardins ao léu.
Aninha, a verdade é que acabei perdendo o vôo por causa da entrevista. Um fato banal decidiu o destino. Fiquei com sono quando o diretor de criação não apareceu e cansei de olhar para o Skype. Imagino que a reunião tenha se extendido e as horas por cá, percebendo a malevolência do vento, passaram a se arrastar e puxar as minhas palpebras para baixo.
Dito isto, a verdade é: não fui ao encontro porque fiquei com sono. Precisamos de doses de realismo para lembrar que somos apenas humanos, não?
Projetar este atravessar de oceano, fez-me lembrar quem fui, um dia. Senti saudades de mim. Mas sei, que embora já tenha trocado de óculos algumas vezes, e continue com os mesmos dois graus de miopia, sei que aquele rapaz não existe mais. Eu me casaria com ele, e diria umas coisas duras a ele, e faria ele entender que eu não queria estar aqui hoje.
A cidade não me parece possível, você sabe. A cidade só seria possível se eu não fosse eu e você não fosse você. E Sampa, é possível?
Já tentei algumas vezes abrir esta caixa preta chamada futuro e só machuquei os dedos. Agora, decidi ficar por cá, um pouco mais pelo menos, e desistir da Cidade. Talvez, se não houver mais expectativas, se eu esquecer dos meus bolsos e chapéus, e o que cabe neles, talvez eu me surpreenda.
Você deve imaginar também que sei curtir a Cidade, apesar de toda a queixa. Já programei os ensaios ao ar livre que quero ver, as exposições, os dias no parque no verão Europeu. Já planejei tudo isto, e embora tenha esquecido de incluir neles a nostalgia e o silêncio, embora tudo isto, acho que não vai ser assim tão mal.
Não sei dizer o que há de errado agora, nunca soube. Eu acho que carregava comigo esta mesma sensação quando aí, deste lado. Talvez tudo seja apenas Eu. Ou o mundo chovendo desilusões sobre mim.
Um beijo, fique bem.
Mr B.
Wednesday 31 December 2008
Outro Ano
Terminei o mestrado.
Não me apaixonei por ninguém.
Chorei por me sentir vazio.
Aprendi a cultivar amizades.
Cortei 4 ou 5 vícios de romantismo em mim.
Aprendi a ser mais direto.
Disse a verdade de uma forma mais crua.
Beijei paredes.
Compreendi onde me encontro enquanto escritor.
Perdi laços com o país de onde vim.
Ganhei outros.
Enlouqueci em Amsterdam.
Chorei por Madrid.
E Barcelona. E Paris.
Disse não muitas vezes.
Dessisti do que não interessa.
Me fechei, me abri.
Cresci uns 4 ou 5 anos em 1.
Falei um monte de entrelinhas incompreensíveis aqui.
Li o blog de vocês que me lêem.
Estudei Espanhol. Dancei Tango.
Rodei a Cidade como nunca.
Me encontrei numa esquina.
Me perdi, me achei.
Peguei carona no sonho dos outros.
Comecei a escrever um romance.
E me apaixonei por um livro de dois capítulos
Que ainda não sei se consigo terminar.
De escrever.